sábado, 20 de dezembro de 2014

Façamos a "Festa"

Se minha vida é toda luz
E a escuridão não me molesta
Vem, anda comigo
Façamos a festa.

Se no caminho percorrido
Minha alegria é manifesta
Vem, anda comigo
Façamos a festa.

Porque vivo em paz e felicidade
 E a esperança entra por uma fresta
Vem, anda comigo
Façamos a festa.

Se faço da vida um conto
E o mundo a minha floresta
Vem, anda comigo
Façamos a festa.

Se o Natal é data feliz
Sendo Jesus o motivo desta
Vem, anda comigo
Façamos a festa.

Olhando o rosto dos meninos
Vejo a verdade que nos resta
Vem, anda comigo
 Façamos a festa.

Vem, anda comigo
Façamos a “Festa”.


                                                                                         Natal 2014 Álvaro Rocha

domingo, 14 de dezembro de 2014

E não será?

Porque por certo é
Para quem a vive de pé
Pode sempre ser contada
Ser uma página narrada
Ou serem autenticas sagas
Não sendo contos de fadas
São sempre histórias reais
Umas menos outras mais
Todas têm seu valor
São sementeiras de amor
E se o homem a vive com apronto
A vida pode ser um conto.

domingo, 7 de dezembro de 2014

A vê-la passar

Assistindo ao passar da vida
Como quem presencia o cortejo que passa
A vê-la por cima
Da varanda.
Descer à rua
Entrar e participar
Ousar invadi-la
Nunca foi opção.
E se ruir a varanda?
Estatelação.
E quem via a vida como paisagem
Ficou apeado no chão
Grande será a dificuldade
No acertar do passo se cair em contra mão
Com uma vida que sempre marchou
De pés descalços em terra batida
Que nem parecia tão dura
Quando da varanda era assistida.

sábado, 15 de novembro de 2014

Hoje

Hoje acordei voando
Nas asas de um sonho que ainda perdura
No vento leve de forte ternura
No prazer do amor que há durando

Hoje acordei sorrindo
Ao sol que brilha na chuva que cai
Ao céu carregado e que de leve vai
Levando meu sonho que sempre bem vindo

Hoje acordei rezando
Falando da luz que me abraça
Que risca projetos como quem traça
Uma vida sonhada que vai ficando

Hoje acordei morrendo
Para as palavras ocas que vão partindo
Que de tão soltas vejo fugindo
E sem saudade se vão perdendo

Hoje acordei gostando
De viver a vida feita caminhada
De escolhos e escarpas no amor amparada
Que hoje me faz acordar voando.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Matematicamente

Subtraindo os sonhos não concretizados
Ainda fica uma vida de sonho

Multiplicando o amor recebido
Ainda sobra muita felicidade

Se lhe somar algumas dificuldades
Resta uma vida temperada

Se souber dividir sem nunca fazer contas
A vida nunca é resto zero

domingo, 5 de outubro de 2014

Reencontro

Depois da tempestade a bonança
Após a noite o raiar do dia
Só quando vivo em mudança
Descubro a névoa que me cobria

Após o fechar de portas
Abrem-se novas janelas
É tempo de purgar maleitas
Sanar algumas sequelas

A vida encontra seu ritmo
A cadência ao normal volta
No encontro de um novo estilo
Numa dança ainda mais solta

Horizontes mais rasgados
Com vistas do sol poente
Depois de vê-lo nascer
Partilho um coração mais quente

Olho a serra vendo o mar
Vejo o sul olhando o norte
Das fraquezas faço forças
Sendo fraco estou mais forte

Reencontro de novo a calma
Parando depois de mudança
Cumpre-se de novo a certeza
Depois da tempestade a bonança.

sábado, 30 de agosto de 2014

Desmontar a tenda

Desenraizar custa
Se as raízes forem profundas e fortes
Ainda custa mais.
No ultimo 15 de Agosto
No caminho para a Missa
Acometido por grande nostalgia
Comentei com a minha companhia
A esposa e companheira de sempre:

“Há 23 anos que não éramos presentes
Na Eucaristia comunitária deste dia santo”.
Desde 91 em Singeverga (S. to Tirso)
Até 2013 em S. João de Ovil (Baião)
Foram muitos os locais de celebração
Muitas vezes no próprio acampamento
Quando garantida a presença de um sacerdote
Se assim não era
Subíamos do rio até à igreja ou capela mais próxima.
- Tropeço – Redonda – Várzea de Calde – Bolfiar
– S. Gião - S. João de Ovil – Barroselas, etc.… etc.… etc.
Vinte e três anos de acampamento
Vinte e três anos de acompanhamento.
Desenraizar custa
Por isso as raízes ainda se mantêm
Não já presas ao solo
Mas emaranhadas nas lembranças e no coração
Por tantos jovens, alguns muitos, hoje homens e mulheres
Que passaram por esta marcante experiência
Que sempre farão parte
Da nossa vida vivida sempre em casal
Periodicamente numa tenda
Em que o dia 15 de Agosto
Foi o grande marco
Durante 23 anos

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dois anos passaram

Foi a 29 de Agosto de 2012
Passaram 2 anos
Embora ainda criança
Ao fim deste tempo já caminha
As frases começam a ser menos balbuciantes
A alimentação mais sólida
Tudo vai caminhando numa adaptação constante
Parecendo pouco
Dois anos são muita vida
Depois da incisão que separa o vivido até então
Agradecer é a atitude permanente
A Deus, e aos homens e mulheres
Que se permitiram fazer parte da minha vida
Agradecer o profissionalismo vocacional
A entrega o carinho e dedicação
O amor que robustece
E ajuda na superação
Que me faz manter de pé
Mas… “Aquele que pensa que está de pé
é melhor ter cuidado para não cair”. (coríntios 10.12)
Dois anos permitem um andar menos cambaleante
Mas o “caminho faz-se caminhando”.

sábado, 23 de agosto de 2014

No cume

No alto daquela serra
Encontrei uma roseira
O mato no cume nasce
A rosa no cume cheira

Ao subir a linda serra
Vê-se o cume aparecer
Mas quando a gente desce
Nem o cume vê sequer

Quando cai a chuva grossa
A água do cume desce
O orvalho no cume brilha
O mato no cume cresce

Quando cai a chuva fina
Salpicos do cume caem
Abelhas no cume entram
Lagartos do cume saem

E logo que a chuva cessa
Ao cume volta a alegria
Pois volta a brilhar depressa
O sol que no cume ardia

À hora do entardecer
Tudo no cume escurece
Pirilampos no cume brilham
Estrelas no cume aparecem

E quando chega o Verão
E tudo no cume seca
O vento no cume limpa
E o cume fica careca

E quando chega o Inverno
A neve no cume cai
O cume fica tapado
E ninguém ao cume vai.

(Autor desconhecido)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Onde estás que te não vejo

Onde estás que não te encontro
De tanto te procurar canso
Pode não ser este o caminho
Mas persisto e nele avanço

Porque é fácil nele andar
A alternativa não me seduz
São obstáculos a desbravar
É muito escuro, prefiro a luz

Por antever dificuldades
Na luta não tenho entrado
E tardo em te encontrar
Por mal te ter procurado

Retroceder parece a solução
Ter que nadar contra a corrente
Despende esforço maior
Uma vida mais exigente

Se não me deixar embarcar
E procurar-te com verdade
Vou  ver-te nas coisas pequenas
E encontrar-te Felicidade.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Consumir antes de ...

Tudo que nasce morre
Qualquer produto tem termo de validade
Alguns mais que outros
A embalagem pode ser boa à vista
O produto ter condições admissíveis
Mas a data condiciona a circulação
Aos bens de consumo fora de prazo… lixo
Tanta gente a catar o lixo
Ansiosa na procura daquilo que caducou
O “respigador”
Àqueles que dentro das normas atiram fora
Ele agradece e mete para dentro do saco
Da casa
Do “buxo”
Para dentro da sua vida dura
Que dura graças a uma data caducada.

Todos temos prazo de validade
Mas o que conta é o estado do produto
E o que fazemos enquanto cá estamos.
Eu vou espreitando os rótulos
Mas não distingo a data limite.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Causas de manifestação

Ainda hoje comi peru ao almoço
Também não gosto de touradas, como não gosto de boxe
Já de bacalhau gosto muito
Um dia os pescadores ainda são castigados. (por pescarem o bacalhau)
Nunca me envolvi numa qualquer “manife” pública
Embora não goste de touradas
Mas também não gosto de boxe
Nem gosto de pimentos e eles comem-se cá em casa
Eu como outras merdas que aqui em casa ninguém come
Liberdades. Gostos.
Um dia vou promover uma “manife”
Por altura do S. João na defesa da sardinha
Porque assa-la é cruel Quem quiser que a coma viva
Não só crua, viva. Para quê mata-la?
De touradas não gosto
Mas vou ao delírio com as piruetas dum fulano sobre os cornos dum touro.
Morreu um homem por insolação a partir pedra
Ao sol como castigo. Castigo para o homem não para a pedra
Castigo = a sol e marreta
Não dei conta de qualquer manifestação contra o sucedido
Também que diabo não era nenhum touro
De touradas não gosto
De sol gosto muito quando tenho uma sombra por perto
Assim como gosto de chuva mas fujo dela
De touradas não gosto
Também não gosto das mortes inocentes das guerras
Nem da pedofilia, sequestros ou violações
Mas por esses motivos nada de “manifes”
Gosto pouco de touradas
Tampouco de políticos corruptos, ou banqueiros picantes e salgados
Ouço muito alarido mas ainda nada de manifestações de rua
Se calhar quem defende os animais também tem estes na lista
Não gosto nada de touradas
Mas ainda hoje ao almoço comi peru.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A fugir sem correr

E eu a fugir
A esquecer o cheiro
Do tanino que chora na árvore cortada
E eu a fugir
Do barulho das máquinas companheiras na lida
Do serrim voador que trepa ao telhado
Impelido com violência pelo rodar dos volantes
E eu a fugir
Do estrépito estampido da fita que se parte
E eu a fugir
A esquecer o cheiro do vento fustigador
Do fumo e calor da caldeira
Da rotina alegre dum duro trabalho
A esquecer os números
Dos metros e metros cantados
Da madeira passada pela vara decímetrada
E eu a fugir
E a esquecer do amarrar da carga
Do cauteloso transporte
Nos destinos desconhecidos
Do abrir dos portões em manhãs de chuva
Do suor constante num rosto tisnado
E eu a fugir
De um verão que não volta
E a esquecer o que sempre lembra
Mesmo a fugir da constante lembrança
A fugir sem correr
 Daquilo que nunca se esquece.

domingo, 27 de julho de 2014

Datas felizes

Dia de Domingo
Vinte e sete de Julho de oitenta
Acordou solarengo e quente
Como os escaldantes coraçõezinhos
Dos dois jovens que se preparavam
Para nesse dia subir ao altar.
Já lá vão 34 anos
Mas os corações mesmo com mais uso
Ainda não refrigeraram
Continuam a guardar o calor do amor
Que faz a felicidade
De quem aposta em viver o Matrimónio.
Sempre contando com a presença de Deus
Numa vida em que ser feliz
Está como prioridade a felicidade do outro
No respeito pela diferença
E na alimentação do amor em casal
Quantos mais?
Só Deus sabe
Mas quantos forem
Serão decerto de felicidade.
                                         27 Julho 2014

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Morrer para mudar

Bom é quando se morre
Já pouco ter para morrer
Se na vida se foi falecendo
Para aquilo que não faz falta ter
Na vida muito se muda
Quase tudo
Sem nunca mudar de vida
Mesmo nada
Até as dificuldades alternam
Para quem como eu sempre viveu dificuldades
São escola. Ensinam a viver
As dificuldades
Por isso sempre morrendo
Na vida vou estabelecer
Normas. Mudanças
Não de condição. De coração
Ser pobre não sendo
Não sendo saber ser
Pobre não por falta do “metal”
Viver sem ele é riqueza
Para quem é. Para mim
Não ter dinheiro é uma situação temporária
Eu vou mudar
Não vou viver sempre aqui
E enquanto aqui em dificuldades
Sempre me bafejaram riquezas
O Pai
A família e amigos
A Igreja/comunidade
O amor que sempre me alenta
Vindo de todas as partes
Pelas portas e janelas que arejam a vida
Sempre abertas
Enchendo meu cofre-forte
Que se abre quando respiro
E partilha a riqueza que me é oferecida
Sem mas… Nem meio mas…

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A fronteira

O ter que sair
Passar a fronteira
Onde fica não sei
Não conheço a fronteira
Quem sabe onde fica
A fronteira
Este ano não vou a caminhar
Mal se percebeu mas está dito
Vou de cadeira de rodas
A consciência das limitações
Ir à Missa de cadeira de rodas
Levar uma cadeira de casa
De rodas
Como levar o farnel para a merenda
Repousando à sombra dos santos
Petiscar nas margens da idade
Não conhecer ainda a fronteira
Fazer a viagem de cadeira
Para passar um dia a fronteira deitado
Sobre rodas
E o tempo que não corre mas se escoa
Para ele e para mim
E todos passamos a fronteira
Mesmo os que não a querem passar
Por não saberem onde fica
Ou por não a conhecerem
À fronteira.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Discrição ausente

Esta coisa dos telemóveis!
Eu recolhido no meu canto
E lá fora na rua, uma voz de homem
A voz era
A passos rápidos caminhando e falando
A passagem pela porta
Permite só uma frase no ouvido
“Ela tem um filho mas é divorciada”
Otimo, apetecido alvo
Nada é impeditivo
“Ela tem um filho mas é divorciada”
A estrada é larga
A meta é já ali…ela
O filho o divorcio
Tudo é ultrapassável
Quem seria o interlocutor?
A mãe. O pai. O amigo?
Não interessa
“Ela tem um filho mas é divorciada”
Eu quero Ela pode ser minha
Por quanto tempo?
Não interessa
Ninguém me imputará a responsabilidade de pai
“Ela tem um filho mas é divorciada”
Já tem um filho
Já teve homem
Agora tem um divórcio
 E pode ter-me a mim
Pouco me importa do que já teve
Agora
No imediato o que vale é que…
“Ela tem um filho mas é divorciada”.

sábado, 28 de junho de 2014

As voltas do mundo

Todo o mundo é meu irmão
Tenho irmãos em todo o mundo e família em toda a parte
O mundo parte de mim
Sou uma parte do mundo
Sendo muito ou pouco mundano eu me proponho ao mundo
Sem vergonha
Quem não a tem todo o mundo é seu
A vergonha…
Nunca disse que o mundo é cão
Mas sei de cães que pensam ser donos dele
A terra é… e o mundo…
Será redondo?
Quando alguém cai redondo
Cai no mundo, ou cai dele?
Lidando bem com a minha ignorância
É à roda do mundo vivo
Vivendo sempre em cruz.
Nunca em ponto de cruz
Porque não sei
Mas sem saber bordar vou dando pontos
Alguns em falso
Sendo o mais conclusivo o ponto final.

sábado, 21 de junho de 2014

A videira na cruz

A imponente cruz no retábulo pintada domina o espaço
O negro da cor condiz com o sofrimento vivido
O Cristo da cruz é simbolizado por grossa videira
Pendentes os ramos e folhas
Pendurados
Presos ao tronco
Olhando o altar lembrava a citação Bíblica
“Eu sou a videira e vós os ramos”
De facto… a videira na cruz
Os ramos também
Enquanto a ela ligados
A cruz também é nossa
É minha. É tua.
Para o meu amigo acabou
E que pesada que lhe foi
Mesmo que ao lado sempre houvesse um cireneu
Um dos ramos caiu da videira
Desta terrena cruz
Está já nos braços do Pai
Numa habitação eterna.

sexta-feira, 20 de junho de 2014

Contínua viagem

É nos rios e nas fontes
Onde correm puras águas
Que melhor sacio a sede
E afogo minhas mágoas
Com a frescura no rosto
Descanso o meu olhar
No verde das tuas margens
Louco por te alcançar
No meu barco de papel
Embarquei sem rumo certo
Na força tola dos fracos
Navego de peito aberto
Meu coração é o leme
Que me guia noite e dia
Se o solto vou naufragar
Perco a bóia da alegria
Estando o porto ainda distante
Com meu barco quase desfeito
Pereço Agarrado ao leme
Que pula agitado em meu peito.

sábado, 14 de junho de 2014

O poder da oração

Hoje rezo por ti
Se te tenho presente na minha oração
Também eu beneficio
Fico mais leve e o mundo sorri.

Hoje rezo por ti
Porque estás no meu pensamento
A oração desintoxica
Por isso ainda não morri.

Hoje rezo por ti
E ao faze-lo eu agradeço
Tu rezares sempre por mim
Razão de me encontrar aqui.

Hoje rezo por ti
E se um dia o não fizer
Vai secando meu coração
Porque não te agradeci.

Hoje rezo por ti
Tu por mim fazes oração
No silêncio das nossas vidas
Tenho a graça que pedi.

sábado, 7 de junho de 2014

A paz que eu desejo

A paz que eu desejo
Não é a do silêncio dos cemitérios
É a paz feita por homens sérios.
Não é a paz dos emudecidos canhões
É a paz dos corações.

Não é a paz apregoada no alto-falante
É a paz dialogante.

A paz estado interior
A paz do bem-querer
Sem ciúme inveja ou competição
A paz de Deus
Gerada num limpo coração

Sem raiva medo ou condenação
A paz da mão dada
Da reconciliação.
A paz do acolhimento
A paz da aceitação
A paz que não cai dos céus
A paz que veio aos homens
A verdadeira paz de Deus.

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Borrasca

Depois da intempérie no alto mar
Atraquei em desabrido porto.
Minha embarcação fragilizada
Com o casco constantemente açoitado
Abre rombos que procuro esconder
Fendas profundas, esguias e traiçoeiras.
Os surdos gritos lancinantes
Que só a noite perscruta
Jazem no fundo féretro
Ecoando agoirentos num lamento.
A âncora nunca lançada
Faz do barco velha dançarina
Ao som de frenética sinfonia
Tocada por altas ondas.
E o mar que nunca acalma…
Para quando um sol de nascente
Até quando a noite de breu
Este estio desesperante
Golpe certeiro que rasga a vontade da luta.
Amainai tenebrosas ondas
Aplacai-vos ventos assassinos
Apiedai-vos da minha pobre embarcação
Deixai que lhe repare os danos
Que lhe sare os profundos lanhos
E mesmo que jamais navegável
Presa por grossas amarras
Fundeada eternamente no porto
Permiti-lhe um casco limpo.

terça-feira, 13 de maio de 2014

Realidade sonhada

Olhei o sol vi teus olhos
Brilhantes como luzeiros
E meus pensamentos ligeiros
Galgaram um mundo de escolhos
Guardei-te em meu coração
Como quem colhe os frutos primeiros.

Inalando teu perfume
Me aconcheguei em teus braços
Fugindo de muitos laços
De pura tristeza e queixume
Hoje quero ser a chama
Ardente calor do teu lume.

Se o que vivo é sonho
Não vou querer despertar
Se é realidade o que sinto
Dormir não vou desejar
Porque acordado na vida
A tristeza sempre finto
Conjugando o verbo amar.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Contingências

Vejo o escorrer da vida
Quando em dia de chuva
Olho os escorridos vidros de uma janela.

Sinto a vida a pingar
Quando descuidado e de peito aberto
Assumo ao exterior do meu abrigo.

Vejo a vida voar
Quando a imagino no alto
À boleia nas asas de uma gaivota.

Sinto o ruir da existência
No abafado trovão ensurdecedor
Que se despenha no alto mar.

Vejo os cruzamentos da vida
Do interior gradeado
Na prisão dos limites impostos.

Sinto o tenaz aperto
Da vida agrilhoada
Numa liberdade só dita.

Vejo e sinto o viver num cadinho
Que na fornalha derrete a matéria
Para moldar uma nova vida.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Passagem

Para quem espera passar
Para quem quer continuar

Num caminho por Jesus feito
Num trilho assas estreito

As margens foram ligadas
As ravinas ultrapassadas

A geena arde no fundo
A esperança inunda o mundo

Na ponte se fez nova via
 Na fonte se renova alegria

Da morte Jesus ressurgiu
Da Páscoa a vida floriu.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Era o que mais faltava

Por favor, isso não…
As circunstâncias fizeram-me assim
Das coisas desapegado
De algumas que possuía
Senti-me despojado
A toda a hora me vejo
Na forma de ser usurpado
Por me tirarem a serenidade
Muito me sinto roubado
Mas no final
Ainda me fica um bocado. 

Este lado bom da vida
O remédio que cura a ferida
Minha força na investida
Contra a tristeza desabrida
Que em mim teima em entrar
Era o que mais faltava
Numa existência de tanto privada
Até a alegria me querem tirar.

Por favor, isso não…
Se tudo tiver que perder
Tirem não vou resistir
Mas a riqueza da minha alegria
Nem pensem…
Hei-de morrer a sorrir.

sexta-feira, 28 de março de 2014

O vento em pranto

Comodamente sentado diante de “Jesus escondido”
Num silêncio que era rezado e foi de repente rompido.

O vento parece querer entrar
Não sei se para rezar tal a violência do seu rugir
Numa escuta aturada
Sinto-o surgindo do nada e suas mágoas carpir.

São gritos dilacerantes
Vindos dos vários quadrantes.

Como arrepio que se sente
Angustiados lamentos de gente
Se confundem com o vento
E os que vivem no momento a dor da separação
Têm no vento um aliado
Que chora que nem desalmado
Num pranto em convulsão.

De repente volta o silêncio cortado
Num vento também sentido
E eu continuando sentado
Diante de “Jesus escondido”.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Pai porque sim...

Foram os meus filhos que quiseram.

Porque nasceram me fizeram.

Pai. Papá ou Paizinho.

Qualquer designação
Enche meu coração

A alegria que dentro me vai
E me faz sentir feliz
Está em me sentir como pai
Sendo árvore com fruto e raiz. 





                                                                                             19 Março 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

A força da voz

Primeiro sumida distante e impercetível
Depois de sacudida a algazarra interior
Despertei o silêncio que dormia
Passei à escuta
Começando a ouvir o seu clamor
Já não era um sussurro
Era uma voz que me trata a murro
Que sempre me chama pelo nome
Que sacode e faz bater o coração
Uma voz que atravessa meu peito
Ressoa como tambor estridente em minha mão
Uma voz que me fala no sino da torre
Voz que me abala no fragor do vento
Que me desperta em cada voz que morre
Que me dita a vida nas margens do tempo
Uma voz que me impele no caminho não feito
A voz do homem na luta diária
Tristeza de quem procura sem jeito
Voz que ri como lei primária
Uma voz que brota do seio da terra
Mais audível perto do chão
A voz gritante da farta miséria
A voz da fome não só de pão
Uma voz que grita em cada criança
Que gela nas veias com estupor
Voz que agita o fervor da esperança
Que reacende o fogo do amor
Uma voz que por vezes é calma
Bela meiga e acariciante
Uma voz que ouço sempre bem perto
Se dela não me faço distante.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Espelho meu...

Quando me olho no espelho
Ele sempre mostra
O sorriso ou a lágrima a ruga ou outro sinal

Repudiá-lo era a vontade
Mas o espelho não engana
É fiel
Para o bem e para o mal

Olhar o espelho sem luz
Querendo fugir à verdade
É recusar a cruz por teimosia ou vaidade

Olhar-me no espelho
E ver o outro eu
É despir-me do entulho e por a vida ao léu

Na nudez da minha vida
Experimentar nela viver
Encontro sempre guarida na aridez que vier

Se na cara mostras a alma
Ainda que de ti fuja
Enganas com linda face o lixo da alma suja

Brilha não fiques baço
Refelete como dever teu
Ainda que apertes o laço
Não me enganes espelho meu…

sábado, 1 de março de 2014

Introspeção

Poesia diz-se e escuta-se
É oral não cabe num livro
Quando falamos dizemos
Mas se silêncio fazemos
Usamos o nosso crivo.

Em cada silêncio da minha vida
Sempre falo contigo
Numa nudez absoluta
Sem segredos nem medos nem luta
Onde nunca calar é castigo.

Sinto uma imensa pena
Me compadeço por ti
E a lágrima que verto
Nem de longe nem de perto
Diz o que sempre senti.

Rompo com meus pensamentos
Corro o tempo que já passou
Quando descubro meu nada
Dou comigo nesta estrada
Que me leva onde estou.

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Avô conta um história

Com os olhitos vivos rindo
Na procura de felicidade murmurada
Surge o pedido esclarecido e lindo
De quem vive o sonho da história contada.

E agora, a que recorrer
Que história contar?
Factos vividos
Narrativas experênciadas?
Não fosse a tua tenra idade
A história teria mais verdade.

Porque teu sorriso é de alegria
Buscarei o sonho e fantasia.

Recorrer ao imaginário
Falar o não vivido
É entrar no pântano, ser temerário
Coar a vida, filtrar dorido.

História do irreal
Quando o real é chaga aberta
Converter o pranto em riso
É risco fatal queda certa.

Com um final feliz
Com um vitória vitória
Não contei aquilo que quis
Porque ainda decorre a história.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Os namorados

Dia dos namorados
O amor anda no ar
Os mais ágeis a ele conseguem chegar
Pulam, trepam e persistem no amar
Outros nunca deixam o chão
Ficam pelo rasteiro
O baixo
E não deixam de rastejar
São namorados sem namorar
Querem amor sem nunca amar

Em S. Valentim oferecem prendas
Fica lindo é tradição
A oferta maior não a fazem nunca
Nunca doaram o coração
Quando se bem namora
Se ama e se é feliz
A vida é bela
E repleta de alegrias
O amor é calor da alma
E se namora todos os dias.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Na rua abrigado

Depois da “bica”
Sair para a rua.
Entrar em casa
A rua.
Ampla casa
A rua.
Cozinha sala e quarto
Um quarto nunca é o todo.
A rua sim, é sua.
Toda.
Os que passam na rua
Na sua casa
Não pedem licença
Nem o saúdam
Não lhe passam “cartão.”
À noite vem a vingança
Enrosca-se nele
É seu cobertor.
O cartão.
De manhã estica as pernas
Dobra o cartão
O quarto da casa arrumado.
Entra na tasca
Toma a “bica”
Sai para a rua.
Entra na sua casa
A rua.

sábado, 25 de janeiro de 2014

O valor das pequenas coisas

O pequeno gesto por mim feito, pode ser pequena coisa, nada me custar, mas ter grande valor para o outro, quando essa pequena coisa o deixa feliz.
Estava longe de imaginar o episódio porque ia passar, quando saí de casa com a lista das tarefas para o exterior. O certo é que tocado por esse acontecimento a primeira das tarefas foi alterada, devido ao turbilhão que me ficou a bailar na cabeça, depois daquilo que designo de boa ação do dia.
Ia na rua conduzindo, quando vejo uma bola vermelha na berma da estrada contrária à frontaria da escola. Supondo ter vindo do interior dos muros escolares, resolvo parar para a devolver à procedência.
Não tinha ainda reparado na plateia pendurada no portão e empoleirada no muro, com os olhitos fitos na rua na ânsia da recuperação da bola, mas aos gritos de alegria dos mais pequenos enquanto me dirigia para o almejado esférico, fui obrigado a sorrir, porque nunca tinha sido tão ovacionado por coisa tão pouca e de simples feitura, (a meu ver, claro).
O facto de que a felicidade dos miúdos estava em terem a bola de volta, medi-a pelas suas palavras de agradecimento: --
Obrigado senhor.
O senhor vai ter uma recompensa.
O senhor é o senhor melhor do mundo.
Claro que também fiquei feliz, não por tamanho elogio, mas por saber ter contribuído para a alegria dos miúdos que me agradeceram com palavras de tal grandeza.
Não sou de certeza o senhor melhor do mundo, mas tenho a consciência plena, que posso sempre fazer algo pela felicidade dos outros.
Posso não ter possibilidades de ofertar grandes prendas.
No porta moedas bailarem à vontade umas pequenas moedas de cêntimo.
No carro a luz da reserva andar acesa pelo gasóleo estar no fim.
Mas posso sempre parar o carro, quando tenho a percessão que uma bola fora das paredes da escola, está a fazer falta a quem brinca com ela no interior.
Ao fazer isso, devolvendo-a ao recreio escolar, dá-se a felicidade aos “Eusébios e Ronaldos” que vão fintando na vida com uma bola vermelha, enquanto não crescem em idade, despertando aí para um mundo onde ninguém lhes passa bola.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Espera constante

Viver sempre a esperar
Uma espera sem condições
Tendo sempre as mesmas razões
Recetivo ao que chegar

O que vier vou aceitar
Interpondo mil questões
No equilíbrio de quedas e tropeções
Espero firme sem vacilar

Espero estando à procura
Fazendo do tempo o crivo
As sementes crivadas
Nesta espera sem agrura
São alimento de que vivo

Na espera se vive pendente
Sem depender das certezas
Sendo forte nas fraquezas
Valorando o tempo presente

Esperando e fazer caminho
Sem nunca parar sentado
Seguindo o trilho traçado
Sabendo não esperar sozinho.