Ser Natal

No Natal nasce o amor
É Jesus que vem até mim
Para eu nascer todos os dias
Em gestos de paz e solidariedade
Fechando minha boca e abrindo o coração
Ser amparo de todo o irmão
O sol que aquece o mundo gelado
E rezar, rir e chorar
Com quem vive a meu lado
E como jesus, nos caminhos eu ser a luz
Que avança vencendo o mal
Ser a paz de jesus na terra
Ser verdadeiro Natal.

Mensagem Grafitada

Em plena cidade de Leiria
Na parede de uma rua um “Grafite”.
Duas pequeninas formigas puxando um burro.
A sugestiva legenda atribuída às formigas reza assim:
“Este burro é teimoso”.
A força que fazem as formigas ao puxar
Nota-se na tensidade da corda
No pescoço esticado do burro
Nas suas patas fincadas no chão
E nas gotas de suar caindo das pequenas formigas
Pela força empregue na difícil tarefa
Para fazer andar o burro.
É muita ousadia para quem é tão pequeno
Fazer andar o grande e teimoso burro
Mas é um exemplo a seguir
Porque mesmo sabendo ser fraco
Se o pequeno não puxa a corda
O burro nunca sentirá a pressão no pescoço
E fica para sempre acomodado
À sua arrogante teimosia.
Eu colhi esta mensagem…
Mesmo sendo pequeno como a formiga
Nunca deixar de pressionar o burro.

O Lado Ternurento da Saudade

Tenho saudades da minha mãe
Porque os mais velhos também têm, ou tiveram mãe.
Saudade do colo do seu olhar
Do carinho do seu sorriso
De ser abraçado pela sua compreensão
Saudade da sua grandeza de perdão
Que mesmo sofrendo avançava sem queixume
Nos desdobrados cuidados contínuos
Nas tantas mãos que puxavam seu avental.
Saudade dos seus joelhos no chão da cozinha
Rezando quando todos choravam, com medo das fortes trovoadas.
Saudade da mãe catequista nas minhas primeiras orações
Da condutora nos meus primeiros passos na fé.
Saudade da tua lágrima numa alegria chorada
Da tua presença à cabeceira da cama no hospital.
Hoje sou um rio de caudal por ti irrigado
Sei-te na outra margem da tristeza, olhando a água que vou mantendo.
Saudade de ver-te lidar com as negras panelas
Em que o perfume da lareira, aquecia e aconchegava
As bocas da fome à espera do caldo de farinha
Tenho saudades de ti mãe, uma saudade alegre
Que sempre me leva na vida
Por saber que me quiseste ter
Como mais um dos teus muitos filhos.
Tenho saudades de ti mãe.

As "Rosas" que nos dão vida.

Quando o mundo vive a correr
Há ainda quem saiba fazer
Do seu tempo constante partilha.
Mobilizar é o lema
É mote, divisa é tema
Que desagua em alegria.

A vida é melhor com amigos
E alguns são-nos tão queridos
Que jamais se vão esquecer.
De Rosa, Azul ou Amarelo
A luta não tem paralelo
Para quem dela faz seu viver.

Graças pela entrega e comunhão
Que motiva a recuperação
De quem ri da própria dor.
E não cessa de reconhecer
Que faz parte do seu viver
A Oncologia como Causa Maior.

Partida

De férias ou em trabalho
Antes da partida o aviso é feito
No recôndito familiar uns
Outros a céu aberto
Pondo tudo ao léu
Até nas redes sociais.
Há quem parta para não mais voltar
Mas fica para sempre
Quem parte sem avisar
Prega uma partida a quem fica
Quem fica, é obrigado a partir para outra
Outra forma de viver
Vivendo a sofrer a falta
De quem faz falta e não volta
E volta não volta quebram
Quebram o silêncio e choram
Choram a partida
De quem partiu e deixou
Partido o coração de quem ainda vive
Uma vida que lhe abriu
Horizontes que ficarão sempre
Nunca totalmente abertos
Porque foi prematura a partida.

A vinha na "Floresta"

A metafórica Ramada chega ao…
Tempo da vindima
Que só acontece
Se a vinha dá seu doce fruto
Só temos frutos
Quando as cepas são de qualidade
E mesmo assim os cuidados devem ser constantes
Se assim não for a vinha só dará agraço (uvas azedas)
É condição uma boa terra
A poda, mesmo que doa ao cortar o dispensável
A lenha que obstrui o crescimento
E o diálogo com os ramos que vão crescendo
Porque o fruto, as uvas, nascem nos ramos
Sabe tão bem colher o fruto
E degustar
Há néctares simplesmente deliciosos
Mas só o serão, depois de passar pelo “sofrimento” da pisa
Precisam-se de “cepas” bem enraizadas
Para sustentáculo dos “tenros ramos”
 No crescimento da vinha que todos desejamos.

Amor alimentado

Trinta e nove já passaram
De uma vida vivida lado a lado
Lagrimas que refrescam a terra que somos
Alegrias que partilhadas nos alimentam
Lutas vencidas que fortalecem
Dificuldades que ultrapassadas são pão
Num sustento fiel e constante
Nas tristezas dissolvidas em cada dia
Onde a indissolubilidade é seiva corrente
Em veias que levam o amor no sangue
A um coração sedento da paz
Que só quem ama aquilata a necessidade
De quanto vale numa vida vivida em casal.
É bom amar-te neste entardecer
É bom ter-te por toda a vida.

Coisas de gente pequena

Gosto das coisas pequenas
Porque também sou… pequeno
Nunca soube o que era ser grande
Se calhar não pensaria como penso
Mas tenho visto quem monta a cavalo
Acabar com os burros na água
Mesmo assim não cansam de dizer

- “Isso não é para mim
Tenho muito mais que fazer
Para me divertir não preciso me imiscuir
Com gente que faz uma festa sem motivo
Que ficou parada no tempo
E ainda convive à mesa
Nunca tive tantos amigos (nas redes socias)
Isso não é para mim, tenho muito mais que fazer
Nem tenho tempo a perder
Com coisas de pouca monta
Até faço parte da equipa, mas não me apetece jogar
Treino porque sempre fica bem
E vou se o encontro for televisionado
De resto, coisas de trazer por casa, isso não é para mim
Pertenço, mas não estou
Devia ir mas não vou
Em mim ninguém manda
Tenho a minha liberdade
Faço dela aquilo que quero (se calhar o que não devo)
Era o que mais faltava, deixar de encher o ego
Por um encontro por outros agendado
Que não respeita as minhas opções
Se ainda há quem goste, bom apetite
Pode ser que um dia, quem sabe, algo me possa motivar
Por essas coisas pequenas
Até posso de quando em vez ir ao treino
Mas o treinador não manda em mim
Vou fazendo o meu percurso, seguindo o meu caminho
Porque tenho de estar presente com gente de quem não gosto?
Eu faço aquilo que quero e ninguém manda em mim.

” Só que… “É de passos pequenos e de muita humildade,
Que é feito este caminho, de confiança e entrega.”

Para fazer com que brilhe a luz, do sol e das almas
E enquanto não mudo o meu pensar
Não deixarei nunca a luz brilhar.

Tenho cancro sim. E depois?

Vieste de mansinho e entraste
Alojaste-te sem permissão
A tua presença não desejada
Foi motivo de preocupação.
De mangas arregaçadas
E olhar fito no futuro
Galguei barreiras nunca esperadas
Quando frágil me fiz duro.
Indesejado inquilino que eras
Avancei até seres processado
Ganhei a questão sem recurso
Um dia foste despejado.
Deixaste os sinais com que vivo
A casa jamais foi igual
As paredes continuam ao alto
Os alicerces suportam o que é mal.
Vieste mansinho e ficaste
Mas nesta disputa a dois
Avanço firme no caminho
Tenho cancro sim. E depois?

Tenho Cancro. E agora?

Não deixo de ser quem era
Os dias nem sempre são primavera
Mas o inverno é também estação
E fazer um favor a mim mesmo
É não desistir de sorrir e viver
O sofrimento destrói se eu deixar
Por isso eu próprio vou encontrar
As armas para o enfrentar
Os outros até podem chorar por mim
Mas superar é minha tarefa
Sou vulnerável mais do que julgava
Não chegando isso a ser mau
Sendo vulnerável sou mais flexível
Capaz de me adaptar
Essa a minha verdadeira força
Lutar e sempre avançar sorrindo
Agradecendo o dom concedido
E enquanto me for permitido
Viver uma plena vida vivida.
“Tenho cancro. E agora?”

O amor uma estrada

O amor não se compra.
Constrói-se.
Não é um vestido ou um fato prontos para usar,
Mas uma peça de tecido que precisamos de cortar, montar e costurar.
Não é um apartamento, entregue, de chave na mão, mas uma casa a ser planeada, construída, sustentada e, às vezes, reparada.
Não é uma montanha vencida,
Mas a partida desde o vale, com subidas apaixonantes, quedas perigosas.
No frio da noite ou no calor do sol brilhante.
Não é um pouso seguro no porto da felicidade,
Mas o levantar da âncora e viajar no alto mar, na bonança ou na tempestade.
Não é um sim triunfante, enorme ponto final que se escreve em música,
Entre sorrisos e aplausos, mas uma imensidão de sins que pautam a vida,
Entre uma multidão de nãos que apagamos caminhando.
Assim ser FIEL não é:
Desorientar-se, não lutar, cair;
É levantar-se de novo e sempre caminhar.
É querer prosseguir até ao fim,
O projeto preparado a dois e livremente assumido.
É ter confiança no outro apesar das sombras da noite.
É sustentar-se mutuamente nas quedas e no sofrimento.
É ter fé no amor todo-poderoso para além do amor.

                                                                                              Michel Quoist

A família

É chama que incendeia 
É fogo que sempre aquece
É vida que se extingue
Se o amor desaparece
É a melhor forma de vida
Para quem a pode ter
É bálsamo que purifica
Remédio que faz viver
É fonte de água pura
Ou é lago estagnado
Sacia quando é fonte
Mata quem vive atolado
É vocação e força dá
Se vivida como missão
Robustece quem alimenta
Enfraquece quem lhe diz não
Todos precisamos de uma
Ainda mais quando criança
É base no crescimento
Sustentáculo e confiança
Se nela o amor prevalece
Sua vida não tem fim
Eu creio e na família aposto
Mas tudo começa por mim.

No caminho ao encontro

Cada momento é de encontro
Encontro com o Pai da parábola Bíblica
Encontro com o outro onde Ele está
Pormo-nos a caminho é necessário
 “O caminho é uma metáfora da vida
Há um ponto de partida e ponto de chegada
Todos estamos destinados a caminhar
Acompanhando-nos uns aos outros
Ajudando-nos e partilhando
A vida naquilo que nos dá”
Por vezes busco e não encontro
Não paro, não vejo e não escuto
O correr a nada me leva
Fechar os olhos é errar o caminho
Não ouvir só embrutece
Encontrar o caminho não é fácil, mas…
“Não procures o caminho, deixa que o caminho te encontre”
Isso só vai acontecer quando me encontrar comigo mesmo
“Porque não chega antes aquele que vai mais rápido
Mas sim aquele que sabe a onde vai”
E aí quando me encontro Em tudo Te encontro.

Tempo de mudança

Um dia entrei na quaresma
Nasci para a vida
Sem saber o significado da palavra
Entrei no caminho
Da quaresma
E peguei na cruz
Da vida que é caminho
Que me deve levar à mudança
À passagem
À ponte que é a Pascoa
Até lá a cruz é companhia constante
A cruz da minha maneira de ser
A cruz que sou para os outros
A cruz da doença
Da ignorância e da pobreza
A cruz que deito fora por comodismo
A cruz que não aceito por orgulho
A cruz que vou recusando para mais leve seguir
Para onde, para onde quero ir
Cruz. Pascoa. Passagem.
Vida tempo de preparação
Da Quaresma que leva à Ressurreição.

A caixa dos sonhos

Vivo a vida como um sonho
Um sonho sempre vivido
Porque é possível viver a sonhar
Não é grade a minha caixa
De tão cheia não a consigo fechar
Por isso os sonhos são livres de sair e me tomar
“O sonho comanda a vida”
A minha é sonho comandado
Nem todos os sonhos são bons
Alguns não realizáveis
Outros interrompidos
Aqueles que vivo porque possíveis
São aroma contagiante
Ar respirado a cada instante
Abrindo caminho a novos sonhos
Que sonho ainda viver
A vida sempre muito me deu
Esses valores me fazem rico
Porque o sonho ninguém mo tira
A caixa de meus sonhos não é grande
Mas existe a transbordar.

 “Enquanto houver um louco, um poeta e um amante, haverá sonho, amor e fantasia. Enquanto houver sonho amor e fantasia, haverá esperança” (Mia Couto)

Tempo para falar com o tempo

Sentei-me à esquina do tempo tentado a falar-lhe se me desse tempo
Devo ter dormitado no tempo da demorada espera
Passou por mim e nem o senti Será que já regressou?
Bati inutilmente à porta do tempo
Esperei, mas ninguém me responde
Como o poderei encontrar?
Foi-me dito que ele só fala com quem lhe dá valor
Com quem sabe conviver com ele e não o despreza
Se me desse a oportunidade de me retratar
Enquanto espero vou avaliando o que de perdi
Recuperando hoje o desperdício do passado
Por não saber o que ele me reserva futuramente
O que sempre valorizei no tempo
É ele não fazer acessão naquilo que concede
Todos o temos por igual embora haja quem diga não o ter
Uns simplesmente passam por ele
Outros gastam-no ignobilmente
Havendo também quem o respeite sabendo aproveitá-lo
Aquele que o perde nunca mais o encontra
Vou sentar-me à porta dele
Até ele me apanhar na esquina e dizer não ter tempo para mim
Quando ele esteve sempre aí e eu não o parei.

Ir ao encontro

Encontrar-me com algo ou alguém
Pés a caminho
Desarmado
Ao encontro com o bem
Não preciso de armas
Restabelecer relações com o Amigo
Abrindo o coração e sem resistências
E sem elaborar discurso dispor-me
O encontro é uma certeza
Porque quem desejo encontrar
Está de braços abertos
E há muito esperando por mim
Reconciliado avanço
Pés a caminho
Encontrar-me com algo ou alguém.

Vida e prevenção

Houve tempo em que o sol brilhou
Por vezes chovia forte e ventava
Mesmo com as mudanças de tempo
A tempestade era ignorada
Vivi sempre no limite
Na margem da potencial enxurrada
Estive na vida descuidado dela
De portas trancadas ainda fechei a janela
Meu viver fluía sem pesar a adversidade
Até me ver isolado na tempestade
Sem barco nem remos a angústia me toma
E a bóia de recurso deixou de flutuar
Que fazer?
Que medida tomar?
Encher o peito de ar e mergulhar
Nadar na enchente é a solução
A força que me resta pode ser salvação
Agarrar o que resta da minha esperança
Rezar para que amaine a vida e surja a bonança
Encontrar o leme que me guie no mundo
Manter-me à tona evitando ir ao fundo.

Amo porque vivo

“Nunca faça nada para sempre, exceto amar”

Amo porque preciso viver
Vivo porque o amor me sustem
O amor se começa a aprender
Ainda no ventre da mãe
Amo a Deus e Natureza
E o mundo que se vai mutilando
Amo as dádivas que nas mãos me caiem
E as Graças que me vão alentando
Amo e tenho mais leve
O peso que me é dado pegar
Sem amor me pesaria a vida
Tornando-me peso para o outro levar
Amo e sei ser amado
Reciprocidade sem obrigação
Amo porque o amor é vida
É batida do coração
Porque amo sei o valor
Da vida em felicidade
Só quem ama dá amor
Vive vida de verdade

“A felicidade e o amor se parecem
Não se tenta ser feliz, não se decide amar
É-se feliz. Ama-se”
Até que vida mandar.

O valor da amizade

(Para uma amiga muito especial e querida)

Quem nasce para lutar nem pela morte é abatido.
A vida foi constante combate
As vitórias o alimento e fortalecimento para nova peleja.
Uma vida cheia na doação e entrega
Convite feito tarefa aceite
O querer e a garra eram as armas
O amor a munição
Privilégio teve quem contigo privou
Por isso te agradeço deixares-me ser teu amigo.
Em algumas das tuas lutas não pude entrar
Estava manietado.
Noutras lutamos juntos e juntos festejamos vitórias.
Podias ter vivido com mais alguma folga
Mas não chegaste a usufruir do que era teu por direito.
Uma adolescência vivida como adulta
Nunca aceitando o que alguns te predestinavam
Argumentado com tudo o que conseguiste
Uma formação profissional guindada a pulso
O formar de uma família
Os muitos e muitos amigos.
Deixas saudade, mas ficarás sempre no legado que deixas.
“Aqueles que partem só morrem quando são esquecidos”

Pelos votos de parabéns; obrigado

Obrigado pelo carinho
Pela demonstração de amizade
Fundamentos para em meu viver
Sentir grande felicidade

Grato pelo afeto
Que mostram para comigo
Quando o temporal assola
Em vós vou tendo um abrigo

Sinceros agradecimentos
Pelo estímulo que em mim causais
Com vossos gestos de carinho
Minha vida tem sinal mais.

Ainda tenho vida com metas?

Sempre
Mais curtas talvez
Quanto maiores mais falíveis
Já faltam pernas
Coração e pulmão
Delinear metas plausíveis
Ter presente as capacidades
Despertar em cada dia e sentir a vida
Olhar o espelho e sorrir
Agradecer a meta atingida
Projetar as horas seguintes
Com muitas ganas, mas sem certezas
Se for preciso parar para restabelecer
Faça-se a paragem
Mas nunca por acomodação
Assim as metas serão cumpridas
Sem nunca serem compridas.

Porque hoje é o dia, mas...

Quem consegue fazê-lo sempre
Vive muito mais feliz
Namorar é forma de estar
Quando se é namorado
Mais importante ainda quando se é casado
Namorar é abrir o coração
É partilha de amor
Viver em relação
Expresso nos gestos dialogantes
Nas atitudes galantes
No por favor e obrigado
No saber-se desculpado
E quando o amor é vivido
A vida tem mais sentido
E porque me sei amado
Serei eterno namorado.

A força da fragilidade consciente

Os ramos da existência
São agitados por fortes ventos
Oscila perigosamente
A árvore que me fiz
As raízes fragilizadas cedem
As folhas que caiem
Choram pisadas pelo tempo
A intempérie acampou em mim
Buscando a guarida que não sou
Meu corpo é permeável tenda
Que pouco abriga
Só no meu querer ainda mora
Uma réstia de alento protetor
Que calo assustadoramente
Num ruído que enlouquece
O aroma a fogo queima o pensamento
O negro do céu é fumo pestilento
O ar inalado chamusca a alma
Abrasando as entranhas
Desta árvore que vai sendo carcomida
Sempre em busca de se firmar
Ao que a pode manter de pé

Ter netos é ter colo

Quando se dá sempre se tem
O colo
O carinho
A atenção
A complacência
Os netos não são só meus
São-no também do outro lado
São amor partilhado
Até nos sacrifícios e no tempo
Nas descobertas e conquistas
No amor constante
Tê-los é ter alegria
É ver o caminho andado
É andar estando parado
É voltar a ser menino
Brincar e virar como um sino
Campaínhas que anunciam
Que há forças que se esvaziam
Mas nada custa na realidade
Se viver é ter felicidade.

Os "tu" abandonados

Como iniciativa foi ótima
Louvável a todos os níveis
Na congregação dos grupos
Uma comunidade em envolvência
Foi lindo de ver
A criatividade
A beleza imaginativa
O mote era:
“O presépio és tu”
E na exposição foram muitos “tu”
Muitos presépios
Só que…
A exposição tem fim
Na hora de culminar
 Quem organiza em beleza quer acabar
Mas não pode
Há muitos “tu” sem dono
Muitos presépios abandonados
Que fazer?
Formar uma instituição para acolher os enjeitados?
Ou deitar todo o simbolismo ao lixo?

Era uma vez o natal

O Natal vem sempre não há engano
Se mal vivi o quotidiano
O Natal será mais um caso profano
Não deixando de ser o espelho do ano.
Fazer de conta é sempre fingir
Dizer que sim mas não querer ir
Ou então faltar para não mentir
Se marca presença logo vai fugir.
Para quê forçar se não sente nada
Nada faz sentido numa impostura pegada
De contradição numa ceia forçada
Como fica a família nesta caldeirada.
O que era alegria é hoje obrigação
O que era encontro é agora encontrão
Para haver a festa bastava união
Cada vez faz mais frio no que foi comunhão.
Será que custa ser honesto e leal
Conseguir discernir quando causo mal
Ganhar consciência do mundo real
E fazer da família a essência do Natal.
O calor da fogueira não dá para aquecer
Enquanto o coração de gelo permanecer
Um Natal sem amor mais vale esquecer
Até conseguir deixar Jesus nascer.

Viver é isto?

Sempre os mesmos gestos
As mesmas palavras
As mesmas coisas repetidas
Viver para arrancar a vida à morte
A monotonia é a forma
Remoer o tempo em trevas e solidão
A rotina
De novo, nada se passa
Enferrujam os hábitos lentamente acumulados
A vida é fictícia
As palavras perderam a realidade
Construímos paralelamente uma falsa vida
Que defendemos desesperadamente
Continuamos a matar o tempo
Mesmo que daqui se veja a vida toda
Vivemos de detalhes e manias que nos vão sustentando
Vivemos a representar
Quando presente num funeral lembro a morte
Mas depressa desvio o olhar
E entro de novo na vida comezinha
Como pesa a vida
Reduzimos a vida a uma insignificância
E continuamos a não viver dom maravilhoso
O fantástico dom da vida.