quarta-feira, 30 de abril de 2014

Contingências

Vejo o escorrer da vida
Quando em dia de chuva
Olho os escorridos vidros de uma janela.

Sinto a vida a pingar
Quando descuidado e de peito aberto
Assumo ao exterior do meu abrigo.

Vejo a vida voar
Quando a imagino no alto
À boleia nas asas de uma gaivota.

Sinto o ruir da existência
No abafado trovão ensurdecedor
Que se despenha no alto mar.

Vejo os cruzamentos da vida
Do interior gradeado
Na prisão dos limites impostos.

Sinto o tenaz aperto
Da vida agrilhoada
Numa liberdade só dita.

Vejo e sinto o viver num cadinho
Que na fornalha derrete a matéria
Para moldar uma nova vida.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Passagem

Para quem espera passar
Para quem quer continuar

Num caminho por Jesus feito
Num trilho assas estreito

As margens foram ligadas
As ravinas ultrapassadas

A geena arde no fundo
A esperança inunda o mundo

Na ponte se fez nova via
 Na fonte se renova alegria

Da morte Jesus ressurgiu
Da Páscoa a vida floriu.

sexta-feira, 4 de abril de 2014

Era o que mais faltava

Por favor, isso não…
As circunstâncias fizeram-me assim
Das coisas desapegado
De algumas que possuía
Senti-me despojado
A toda a hora me vejo
Na forma de ser usurpado
Por me tirarem a serenidade
Muito me sinto roubado
Mas no final
Ainda me fica um bocado. 

Este lado bom da vida
O remédio que cura a ferida
Minha força na investida
Contra a tristeza desabrida
Que em mim teima em entrar
Era o que mais faltava
Numa existência de tanto privada
Até a alegria me querem tirar.

Por favor, isso não…
Se tudo tiver que perder
Tirem não vou resistir
Mas a riqueza da minha alegria
Nem pensem…
Hei-de morrer a sorrir.