sábado, 30 de agosto de 2014

Desmontar a tenda

Desenraizar custa
Se as raízes forem profundas e fortes
Ainda custa mais.
No ultimo 15 de Agosto
No caminho para a Missa
Acometido por grande nostalgia
Comentei com a minha companhia
A esposa e companheira de sempre:

“Há 23 anos que não éramos presentes
Na Eucaristia comunitária deste dia santo”.
Desde 91 em Singeverga (S. to Tirso)
Até 2013 em S. João de Ovil (Baião)
Foram muitos os locais de celebração
Muitas vezes no próprio acampamento
Quando garantida a presença de um sacerdote
Se assim não era
Subíamos do rio até à igreja ou capela mais próxima.
- Tropeço – Redonda – Várzea de Calde – Bolfiar
– S. Gião - S. João de Ovil – Barroselas, etc.… etc.… etc.
Vinte e três anos de acampamento
Vinte e três anos de acompanhamento.
Desenraizar custa
Por isso as raízes ainda se mantêm
Não já presas ao solo
Mas emaranhadas nas lembranças e no coração
Por tantos jovens, alguns muitos, hoje homens e mulheres
Que passaram por esta marcante experiência
Que sempre farão parte
Da nossa vida vivida sempre em casal
Periodicamente numa tenda
Em que o dia 15 de Agosto
Foi o grande marco
Durante 23 anos

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dois anos passaram

Foi a 29 de Agosto de 2012
Passaram 2 anos
Embora ainda criança
Ao fim deste tempo já caminha
As frases começam a ser menos balbuciantes
A alimentação mais sólida
Tudo vai caminhando numa adaptação constante
Parecendo pouco
Dois anos são muita vida
Depois da incisão que separa o vivido até então
Agradecer é a atitude permanente
A Deus, e aos homens e mulheres
Que se permitiram fazer parte da minha vida
Agradecer o profissionalismo vocacional
A entrega o carinho e dedicação
O amor que robustece
E ajuda na superação
Que me faz manter de pé
Mas… “Aquele que pensa que está de pé
é melhor ter cuidado para não cair”. (coríntios 10.12)
Dois anos permitem um andar menos cambaleante
Mas o “caminho faz-se caminhando”.

sábado, 23 de agosto de 2014

No cume

No alto daquela serra
Encontrei uma roseira
O mato no cume nasce
A rosa no cume cheira

Ao subir a linda serra
Vê-se o cume aparecer
Mas quando a gente desce
Nem o cume vê sequer

Quando cai a chuva grossa
A água do cume desce
O orvalho no cume brilha
O mato no cume cresce

Quando cai a chuva fina
Salpicos do cume caem
Abelhas no cume entram
Lagartos do cume saem

E logo que a chuva cessa
Ao cume volta a alegria
Pois volta a brilhar depressa
O sol que no cume ardia

À hora do entardecer
Tudo no cume escurece
Pirilampos no cume brilham
Estrelas no cume aparecem

E quando chega o Verão
E tudo no cume seca
O vento no cume limpa
E o cume fica careca

E quando chega o Inverno
A neve no cume cai
O cume fica tapado
E ninguém ao cume vai.

(Autor desconhecido)

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Onde estás que te não vejo

Onde estás que não te encontro
De tanto te procurar canso
Pode não ser este o caminho
Mas persisto e nele avanço

Porque é fácil nele andar
A alternativa não me seduz
São obstáculos a desbravar
É muito escuro, prefiro a luz

Por antever dificuldades
Na luta não tenho entrado
E tardo em te encontrar
Por mal te ter procurado

Retroceder parece a solução
Ter que nadar contra a corrente
Despende esforço maior
Uma vida mais exigente

Se não me deixar embarcar
E procurar-te com verdade
Vou  ver-te nas coisas pequenas
E encontrar-te Felicidade.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Consumir antes de ...

Tudo que nasce morre
Qualquer produto tem termo de validade
Alguns mais que outros
A embalagem pode ser boa à vista
O produto ter condições admissíveis
Mas a data condiciona a circulação
Aos bens de consumo fora de prazo… lixo
Tanta gente a catar o lixo
Ansiosa na procura daquilo que caducou
O “respigador”
Àqueles que dentro das normas atiram fora
Ele agradece e mete para dentro do saco
Da casa
Do “buxo”
Para dentro da sua vida dura
Que dura graças a uma data caducada.

Todos temos prazo de validade
Mas o que conta é o estado do produto
E o que fazemos enquanto cá estamos.
Eu vou espreitando os rótulos
Mas não distingo a data limite.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Causas de manifestação

Ainda hoje comi peru ao almoço
Também não gosto de touradas, como não gosto de boxe
Já de bacalhau gosto muito
Um dia os pescadores ainda são castigados. (por pescarem o bacalhau)
Nunca me envolvi numa qualquer “manife” pública
Embora não goste de touradas
Mas também não gosto de boxe
Nem gosto de pimentos e eles comem-se cá em casa
Eu como outras merdas que aqui em casa ninguém come
Liberdades. Gostos.
Um dia vou promover uma “manife”
Por altura do S. João na defesa da sardinha
Porque assa-la é cruel Quem quiser que a coma viva
Não só crua, viva. Para quê mata-la?
De touradas não gosto
Mas vou ao delírio com as piruetas dum fulano sobre os cornos dum touro.
Morreu um homem por insolação a partir pedra
Ao sol como castigo. Castigo para o homem não para a pedra
Castigo = a sol e marreta
Não dei conta de qualquer manifestação contra o sucedido
Também que diabo não era nenhum touro
De touradas não gosto
De sol gosto muito quando tenho uma sombra por perto
Assim como gosto de chuva mas fujo dela
De touradas não gosto
Também não gosto das mortes inocentes das guerras
Nem da pedofilia, sequestros ou violações
Mas por esses motivos nada de “manifes”
Gosto pouco de touradas
Tampouco de políticos corruptos, ou banqueiros picantes e salgados
Ouço muito alarido mas ainda nada de manifestações de rua
Se calhar quem defende os animais também tem estes na lista
Não gosto nada de touradas
Mas ainda hoje ao almoço comi peru.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A fugir sem correr

E eu a fugir
A esquecer o cheiro
Do tanino que chora na árvore cortada
E eu a fugir
Do barulho das máquinas companheiras na lida
Do serrim voador que trepa ao telhado
Impelido com violência pelo rodar dos volantes
E eu a fugir
Do estrépito estampido da fita que se parte
E eu a fugir
A esquecer o cheiro do vento fustigador
Do fumo e calor da caldeira
Da rotina alegre dum duro trabalho
A esquecer os números
Dos metros e metros cantados
Da madeira passada pela vara decímetrada
E eu a fugir
E a esquecer do amarrar da carga
Do cauteloso transporte
Nos destinos desconhecidos
Do abrir dos portões em manhãs de chuva
Do suor constante num rosto tisnado
E eu a fugir
De um verão que não volta
E a esquecer o que sempre lembra
Mesmo a fugir da constante lembrança
A fugir sem correr
 Daquilo que nunca se esquece.