sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A fugir sem correr

E eu a fugir
A esquecer o cheiro
Do tanino que chora na árvore cortada
E eu a fugir
Do barulho das máquinas companheiras na lida
Do serrim voador que trepa ao telhado
Impelido com violência pelo rodar dos volantes
E eu a fugir
Do estrépito estampido da fita que se parte
E eu a fugir
A esquecer o cheiro do vento fustigador
Do fumo e calor da caldeira
Da rotina alegre dum duro trabalho
A esquecer os números
Dos metros e metros cantados
Da madeira passada pela vara decímetrada
E eu a fugir
E a esquecer do amarrar da carga
Do cauteloso transporte
Nos destinos desconhecidos
Do abrir dos portões em manhãs de chuva
Do suor constante num rosto tisnado
E eu a fugir
De um verão que não volta
E a esquecer o que sempre lembra
Mesmo a fugir da constante lembrança
A fugir sem correr
 Daquilo que nunca se esquece.

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