segunda-feira, 30 de julho de 2012

Portas que se abrem

Senti uma aragem fria
Mas o tempo que fazia
Nunca o fazia prever
O sol a pino tudo assava
E se o vento não soprava
Que me fez estremecer?

 Para que o cérebro não embruteça
Nem levanto minha cabeça
Mas célere a conclusão surgiu
Tantas saídas sem entradas
Com janelas escancaradas
Mais uma porta se abriu.

 Em cada porta um milagre
Provado o fel e vinagre
Entrar será salvação?
Para mim não, fico de fora
A vantagem por agora
É resistir ao empurrão.

 Encosto portas sem barulho
Fecho janelas ao orgulho
Que sentir eu poderia
Para não me deixar vencer
Teimarei sempre em viver
Resguardado da aragem fria.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Ter fé não é um negócio

 Além de alguma debilidade física, devo confessar que as dores e as tribulações nunca me trouxeram prejuízo. Fazem-me sofrer, claro, mas nunca me causaram prejuízo, nem à alma, nem mudaram a orientação da minha vida.
Tomo a liberdade de citar alguns escritores, por me rever em suas afirmações.
“O homem é um eterno aprendiz, a dor é o seu eterno mestre” (Alfredo de Musset).
“A dor aguça a inteligência e fortifica a alma” (Schaubert).
“A tribulação é o crivo que separa a palha do grão” (Rivadeneyra).
Poderão dizer que isto é literatura, preocupação em adoçar aquilo que é azedo, mas a dor quando não é assumida, leva à destruição.
Pessoas existem onde é inútil semear a esperança, digas o que disseres sempre encontrarão uma gota de veneno para se manterem na amargura.
O sofrimento pode ser tomado como um desafio, um obstáculo que me obriga a saltar mais longe.
De que adianta cultivar as minhas dores e revolver-me na tristeza?
Sofrer é sempre sofrer, mas poder olhar para o sofrimento da perspectiva de quem vive a fé, ajuda a encarar o futuro sem ressabiamento, porque a esperança, essa, ainda resiste.
Há pessoas que pensam que, quando se tem fé, os problemas desaparecem por si mesmos. Se assim fosse, ser crente era um consolo e um negócio rentabilíssimo. Mas a verdade é que normalmente, Deus não vai à frente dos seus a tirar do caminho todos os obstáculos em que poderiam tropeçar, ou a fazer que as dores saibam a chocolate.
Para aquele que crê sofrer é sofrer.
Mas ter fé, é ter consciência que o sofrimento consegue ultrapassar-se, com a ajuda Daquele em que se acredita.

terça-feira, 24 de julho de 2012

O Amor sempre

Ainda e sempre o Amor
Aquele que faz sem alarde
Que é energia e calor
É fogueira que arde
Contínua brasa incandescente
Que se dá gratuitamente
Sem esperar lucro ou retorno
Amor que se mostra no estar
Que se vê no abandono
Do eu
Do seu canto
Amor alegria e pranto
No partir teimosa lágrima
Por ir
No pôr-se a caminho
Amor nunca sozinho
Amor cativante
Sem palavras
Amor gesto desafiador
Que interpela e questiona
Amor que não esmorece
Amor que não abandona
Quando alguém dele carece
Porque…se só quem é amado
Sabe amar sem favor
Grita ao mundo estando calado
Ainda e sempre o Amor.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Encontro

Estou à espera do encontro
Ainda não sei com quem
Ainda não sei com o quê
Mas sei que me vou encontrar
A espera não é passiva
Já saí
Já me meti a caminho
Porque o encontro não é aqui
A espera não é passiva
O encontro exige preparação
A incógnita tem esse dom
E a reboque com as surpresas
Vêm carradas de incertezas
Mas o encontro sempre acontece
A todos
 Mesmo a quem não o espera
Quando se está preparado
Pode ser em qualquer lado
Estando parado
Ou a caminhar
Ainda não sei com quem
Ainda não sei com o quê
Mas sei que me vou encontrar.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A vida presa por um fio

Ouvi há dias uma expressão que me deixou a pensar sobre a sua veracidade.
“A vida ganha outra perspectiva e dimensão, quando sentimos que a temos presa por um fio”.
Depois de pensar sobre o assunto, algumas dúvidas me assaltaram.
Haverá só alguns que vivem nessa situação, ou seremos todos nós, aqueles que ainda vivemos?
Haverá diferença na sustentabilidade e resistência do fio que nos prende à vida?
Será que até nesta situação existe diferença rico – pobre, fraco – poderoso?
Não creio, por isso insisto com algumas questões.
Quem está mais firme no fio que o prende à vida, eu que faço tratamento com o intuito de vencer um cancro, ou o jovem robusto e saudável que perde a vida num qualquer acidente de viação?
Quem vive mais sustentável, um velhinho enfermo ou um atleta que morre em competição?
Não é de hoje que adquiri a consciência que viver é um risco permanente, e que sei ser ténue o fio que me prende à vida, mas é nessa certeza que vivo, mas com muita confiança em quem sustém esse fio que me segura.
Não é um qualquer fio. Sei que não é um daqueles usados no manuseamento de marionetas.
O fio que me liga à vida, liga-me também a outras coisas importantes e de muito valor que eu não dispenso. Esse fio dá-me a liberdade para estar na vida e vivê-la. Se fosse um grosso cabo, daqueles que usam os que pensam ter bem agarrada a sua vida, porventura não teria tanto espaço para me movimentar na vida que quero viver.
Claro que tendo a vida presa por um fio, vou ter muito mais cuidado com as “tesouras” que de mim se aproximam.

 Ps. Para que conste: O cerco à fragilidade continua.

sábado, 14 de julho de 2012

Dedicatórias

O amor é doação
Que não se mostra falando
A vida é que dá testemunho
No caminho que se faz caminhando

Se o meu humilde escrever
A alguém for útil na vida
Vou sentir felicidade
Por ter feito “vida vivida”

Na vida nunca há metas
Há etapas a percorrer
É o percurso da vida
Que nos ensina a viver

A vida só tem sentido
Se for ganha cada dia
Pode ser dura a batalha
Mas não deixa a alma vazia

Há palavras que mesmo não ditas
São sempre de agradecimento
Por nos mostrarem que a vida
É vivida a cada momento

Há felicidades na vida
Que podem não ser o caminho
Viver bem é gratificante
Se eu fizer o meu destino

A semente é a palavra
O Semeador não sou eu
Mas colaboro com Ele
Com dom que Ele me deu

terça-feira, 10 de julho de 2012

Fragilidade cercada

O cerco está montado
Em torno da fragilidade
A resignação acontece
Submetendo-se ao outro
Mesmo contra vontade.

Se não gostasse de usar gravata
O seu uso por imposição
Me faria asfixiar
Estou frágil mas não derrotado
Conseguindo ainda dizer não
A cercos que me querem montar.

Por trás de cada palavra
Está uma refleção profunda
Posso ficar pela metade
Não dizendo toda a verdade
Deixando a realidade menos imunda.

Só considero o alternativo
Se um primeiro plano falhar
Alternativo deixa de ser
Quando é uma intrusão
Com o decorrer do primeiro
Sem o seu resultado esperar.

No seu cavalo cansado
Vai atravessando o deserto
O cavaleiro ferido de morte
Os abutres voam mais perto
Aparecem de todo o lado
Imagina-se do cavaleiro a sorte.

Num imaginário delírio
Onde as vítimas passam a réus
Os abutres parecem deus
E os catos de espinhos afiados
Surgem como fofo colchão
Onde a vítima se deixa cair
Sem conseguir de lá sair
Esperando a salvação.

sábado, 7 de julho de 2012

Realidade imaginária

“Quando estamos com insónias tudo o que pensamos é imaginário.”
Por inerência de alguns factos pontuais, o meu sono sofre de alguma perturbação, e entre focar-me nos números vermelhos do relógio digital sobre a mesa de cabeceira, ou no candeeiro de teto que vislumbro mesmo quando desligado, vou pensando em acontecimentos que parecendo reais, são na maioria imaginários.
Esmiúço minuciosamente factos acontecidos durante o tempo que designamos de dia, que foram apresentados como notícias mas que nas minhas insónias se tornam em algo de imaginário, porque na verdade eu não acredito que sejam reais.
Pode lá ser um enfermeiro ganhar 3.96 euros por hora?
Como pode ser verdade fechar escolas, hospitais, tribunais, centros de saúde e andar todo mundo a assobiar para o ar?
E o número de desempregados e de pobres famintos, de gente que tem de entregar as suas casas?
Vocês acreditam nisso?
Claro que é pura imaginação, os casos de justiça pendentes, como:
Casa Pia, Freeport, B P N, os crimes perpetrados pelo dr. Duarte Lima, as sucateiras etc, vocês acreditam que isto ainda não está resolvido? Claro que está, e todos sabemos o desfecho.
Alguém acredita na reforma que o sr. Macário Correia vai auferir pelo tempo em que foi deputado, agora que está em vista, ser destituído do cargo de presidente da câmara?
Haverá quem acredite ser possível conseguir-se uma licenciatura com dr. em dois semestres (1 ano) quando só se tinha uma cadeira completa com 10 valores?
A não ser que houvesse já uns cadeirões de braços à espera de ser comprados pelo dr.
Ah ele tinha muitos créditos.
Neste momento eu tenho só um para pagar em cada mês, mas se tivesse sabido que isto era possível, tinha trocado o crédito por cadeiras e deitava ao lixo os meus bancos de pau feitos.
“Quando estamos com insónias tudo o que pensamos é imaginário”
Será isto imaginário porque estou com insónias, ou é pura realidade porque me deixei adormecer?