(Escrito em 2013. Na altura para o jornal 5 sentidos)
Vivendo hoje com a idade que
tenho, será que não vivo no meu tempo?
Estarei errado se disser, que
ontem foi o meu tempo, que hoje é o meu tempo, e que amanhã se eu viver será também
o meu tempo, igual ao de todos os outros que lá chegarem?
Seria talvez mais correto
referindo-me ao tempo antigo eu dizer, o tempo em que era criança, o meu tempo
de jovem, e não cair no lugar comum ao dizer “no meu tempo.”
Se o meu tempo era o passado,
hoje é o tempo de quem? Se hoje continuo a viver e a usufruir do tempo que
penso ter direito faça chuva ou faça sol, este não é o meu tempo?
Vem a velhinha da publicidade
televisiva dizer.
"No meu tempo não havia isto, no meu tempo não havia aquilo, e
no meu tempo eu não podia dizer, eu conto com o “continente.”
De facto não,
porque naturalmente quando ela era mais jovem, ainda não existia essa mina que
é hoje explorada por esses mineiros sem picareta, e a velinha não podia na
altura contar com o “continente.”
Não podia contar com essa
coisa, e talvez contasse com algumas que não queria, como carências a nível
material, mas contava isso sim com o respeito que havia pelos mais idosos e
pelas crianças, contava com os vizinhos, que sem saberem dizer a palavra
solidariedade executavam-na. Contava com muitas outras coisas que foram
passando de moda, mas que ao desaparecerem não fazem com que vivamos hoje
melhor que ontem. Contava com gente séria nos lugares de responsabilidade,
contava com um país de gente pobre mas honesta, contava com muitos lares sem
instalação de eletricidade mas onde a luz que irradiava do interior ia
iluminando o caminho aos mais novos.
Contava com as refeições
feitas em família na hora marcada, em que todos cumpriam sacramente.
Sem saudosismo doentio digo.
Hoje não adianta chorar a pedir que o tempo volte para trás, tão pouco querer
alterar a cronologia futura, mas que sinto algumas saudades do tempo em que fui
criança e jovem, lá isso sinto. Não pelo facto de ter menos idade, mas era um
tempo em que podia contar com algumas coisas boas, com que hoje não conto.