sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Não há engano se...

O algodão não engana
Se for usado limpo
As palavras nunca ferem
Se o pensamento é reto
O olhar nunca faz mossa
Se o coração transborda amor
A cólera é sempre contida
Se o perdão prevalece
Até a noite finda
Se o sol nos visita
As nuvens também se afastam
Se o carinho pairar
A tempestade tende a amainar
Se a alegria surgir
O coração melhor respira
Se o amor é oxigênio
O espelho é sempre fiel
Se a alma é transparente
A vida é sempre vivida
Se eu quero vive-la.

sábado, 18 de novembro de 2017

Procurando saída

Foi no encontro que me perdi
No que fui perdendo é que achei
A firme vontade de percorrer correndo
Um caminho que não sabia sem saída
Em buraco estreito e escuro
Sem pretender ofuscar a visão
Com a luz ao fundo do túnel
Que tarda em surgir
Fazendo-me tatear
Na humidade pedregosa
Dos lados frios da vida
Em que refreia a esperança
E os passos colam no medo
Do lodoso e lento pensar
Em que as trevas são alimento
Numa mesa de mentira
Mastigando desalento
No saciar da fome de rumo
Sem certezas no caminho
Que revelam tênue luz
Mas o final do túnel
Ainda não foi alcançado.

sábado, 11 de novembro de 2017

Questão de posição

Nas costas da morte
Vou forçando a vida.
Por vezes viver custa
Mas enfrentar aquela
Que por ora está de costas
Deve custar mais, suponho.
Morrer para algo em vida
Também dói
Mas após a dor vem a alegria
Da vitória do empenho.
Pior é viver estando morto
Morto de fome, de cansaço, de medo.
Fome de justiça
Cansaço da luta
Medo da vida.
Vivendo menosprezando a vida
É morrer a destempo.
Eu por enquanto
Vou forçando a vida
Vivendo nas costas da morte.

sábado, 4 de novembro de 2017

O amor fica

Morremos porque nascemos
Sentimos porque existimos
Partimos porque chegamos
Sofremos porque amamos
Viemos ao mundo
A este nómada acampamento
Em que a vida
A nossa tenda terrestre
Montada por imprevisível tempo
Não resiste a todas as investidas
Ventos e temporais a vão desgastando
E pondo fim à sua impermeabilização
Rasgam-na sem piedade
Até a tenda
A vida no acampamento
Ruir
Mas a vida não vai parar
Porque…
“ Aqueles que passam por nós
Não vão sós
Não nos deixam sós.
Deixam um pouco de si
Levam um pouco de nós”

(Saint Exupery)