sábado, 15 de agosto de 2020

Dia das visitas

 

Desenraizar custa 

Se as raízes forem profundas e fortes 

Ainda custa mais. 

Hoje 15 de Agosto 

No caminho para a Missa 

Acometido por grande nostalgia 

Comentei com a minha companhia 

A esposa e companheira de sempre: 

“Há muitos anos que não éramos presentes 

Na Eucaristia comunitária deste dia Santo”. 

Desde 91 em Singeverga (S. to Tirso) 

Foram muitos os locais de celebração 

Muitas vezes no próprio acampamento 

Quando garantida a presença de um sacerdote 

Se assim não era Subíamos do rio até à igreja ou capela mais próxima.

 - Tropeço – Redonda – Várzea de Calde – Bolfiar – S. Gião - S. João de Ovil – Barroselas, etc.… etc.… etc. 

Vinte e nove anos de acampamento 

Vinte e nove anos de acompanhamento. 

Desenraizar custa, por isso as raízes ainda se mantêm 

Não já presas ao solo 

Mas emaranhadas nas lembranças e no coração 

Por tantos jovens, alguns muitos, hoje homens e mulheres 

Que passaram por esta marcante experiência 

Que sempre farão parte da nossa vida vivida sempre em casal

Periodicamente numa tenda 

Em que o dia 15 de Agosto 

O dia tão esperado das “visitas” (autênticos convívios familiares) 

Foi o grande marco na vida de tantos 

Para mim durante 29 anos.

Surpesas da vida

Não desvalorizo. Não descuido. Tenho muito “respeitinho” Mas não será a porcaria da pandemia que me tolhe de medo ou me impedirá de dormir Com todo cuidado, ainda não deixei de fazer, aquilo que a responsabilidade familiar, comunitária e social me exige. A situação vivida neste tempo, ainda não foi pretexto, para o que pode ser um perigoso abandono, por deixar de viver a vida por inteiro. Não morrendo da doença, também não quero morrer da cura. Quem na vida já passou por situações de doença algo complicadas, olha para os acontecimentos atuais de outa forma. Pode parecer que relativizo em demasia a situação, mas foram tantos os momentos críticos, como a realidade de um cancro, a incerteza de uma intervenção cirúrgica, as sessões de quimioterapia, que encarei sempre com um espírito de quem sabe que… se é necessário para quê fazer «micha»? Entrar, e ter uns bons dias com um sorriso lindo, transforma a sala de tratamento num local de são convívio, onde a doença parecia desaparecer, (nem para todos, o que se compreende) É claro que sentíamos um aperto no coração, e um cair na real, quando um companheiro da cadeira próxima partia. Ficava a angústia de eu posso ser o próximo. Reagir é a melhor solução, e aquilo que é a preocupação com a aparência física deixa de ter importância. Quando se é apanhado por uma doença oncológica começamos a ser olhados como “coitadinhos”, será que se vai safar ou não? Com esta porcaria do Covide mudaram as coisas, de repente as pessoas sentem que podemos ser todos, porque esta sim, é contagiosa. Alguns dos heróis no serviço de saúde não são recentes, são de sempre. Em 2012 quando comecei a conhecer o serviço de oncologia no hospital de Gaia, (ainda nos contentores) a equipa de enfermagem era composta por sete “Senhoras Enfermeiras” as heroínas que faziam naquele espaço físico “provisório” verdadeiros milagres, eu sou uma das provas. Eram as enfermeiras: - Anabela Amarelo – Eugénia (Geninha) – Irene – Carla – Albertina – Isabel – Sónia. Nomes que nunca me esquecerei, assim como a Dra. Ana Paula, que me acompanhou desde o começo, quando as coisas estavam menos boas, e sempre lidou comigo de uma forma amiga e carinhosa, e muito profissional, acompanhada sempre daquilo que eu via como vocação. Mais tarde conheci a Dra. Andreia Capela, que me “despediu por justa causa”. Qual Covid qual quê. Não precisamos de situações destas, para se quisermos, ver o bem que temos. A minha homenagem.