Vejo o escorrer da vida
Quando em dia de chuva
Olho os escorridos vidros de uma janela.
Sinto a vida a pingar
Quando descuidado e de peito aberto
Assumo ao exterior do meu abrigo.
Vejo a vida voar
Quando a imagino no alto
À boleia nas asas de uma gaivota.
Sinto o ruir da existência
No abafado trovão ensurdecedor
Que se despenha no alto mar.
Vejo os cruzamentos da vida
Do interior gradeado
Na prisão dos limites impostos.
Sinto o tenaz aperto
Da vida agrilhoada
Numa liberdade só dita.
Vejo e sinto o viver num cadinho
Que na fornalha derrete a matéria
Para moldar uma nova vida.