sábado, 30 de junho de 2012

Morreu o "zeca"

Atingiu a sua maioridade, teve uma bonita existência aqui e ali com alguns percalços, mas o Zeca foi sempre muito comedido, nunca entrou em questiúnculas, não usava de exigências, nem comida reivindicava. O Zeca alimentava-se só quando lhe punham a comida à vista, o que acontecia sempre pela manhã e dava para vinte e quatro horas. Apesar de me ter afeiçoado ao Zeca, asseguro-lhes que nem uma lágrima verti, eu tinha a certeza que tal como eu, um dia ele iria morrer. Confesso que até fiquei um pouco aliviado, é menos uma boca para alimentar, o que neste tempo de vacas esqueléticas… é que o Zeca nunca ganhou para a casa, não usufruiu nunca de subsídios, não teve direito (nem torto) a desemprego, e não chegou a ter reforma. Para os 80 ainda faltava um pouquito, pois só tinha 18 anos. Como poucos sabiam da sua existência, não participei a ninguém a sua partida, tão pouco requeri certidão de óbito, poupei nas despesas de funerárias, senão tinha que vender algum bem que não tenho, e assim eu mesmo tratei de tudo. O Zeca saiu directamente de casa para um buraco aberto no quintal. Na altura não fiz qualquer oração, mas enquanto ele viveu, foi motivo de muita admiração, e olhando o Zeca eu reflectia sobre as maravilhas que a natureza nos propiciona, e assim eu rezava. Não avisando sobre o seu desaparecimento evitei algumas lágrimas, porque tenho a certeza que há quem vá sentir mais a sua falta que propriamente eu. Sempre tão altivo e brincalhão, e morreu todo encarquilhado. Temos pena, mas o Zeca já foi. A diferença que mais se notará por cá, será o ruído que mais se ouvia durante a noite. As piruetas maravilhosas feitas pelo Zeca dentro do aquário.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A vida e as cores

 Cada vida várias cores
Se a tinta tiver qualidade
Pintaremos de verdade
Com pinceladas de valores
A tela da sociedade
Por alguns pintada de horrores.
Há quem tenha cor política
E a defenda, com ou sem razão
Não trocam nunca de cor
Nem mudam de opinião.
Há quem fique verde de raiva
Se o seu dizer não faz regra
Vivem cinzentos na vida
Trazem sua alma negra.
No luto impera o preto
Anseio o branco da paz, a alvura
O rosa que pinta o amor
O bonito azul da ternura.
É belo o rubor da face
Reflexo duma alma casta
Toda a vida merece cor
Mesmo nos sendo madrasta.
Temos as cores a paleta
Pintemos as nossas vidas
Os artistas sempre aparecem
 Se as obras não ficam escondidas.
Pintemos nossas famílias
Com as cores do amor do carinho
Nossas vidas terão mais cor
Se não for escuro o caminho.
 Usemos na vida as cores
Pintemos nosso ambiente
Se a cor for de alegria
 Fica o outro mais contente.
Lindas cores bonitas vidas
Neste painel sem medidas
Pintado a cada momento
O amor é cor sem paralelo
Se deixa alguém de “Amarelo”
 Pintado pelo casamento.

(Dedicado à Enf. Anabela Amarelo)

domingo, 24 de junho de 2012

Falar de dor

Hoje falo de dor
A dor que não digo mas sinto
A dor que mirra e queima
A dor que corrói a dor absinto
A dor do querer e não poder
A dor do ver e não fazer
A dor da impotência da resignação
A dor das lágrimas salgadas
A dor das faces molhadas
A dor do aperto na coração
A dor da voz embargada
Do grito surdo retraído na garganta
A dor soluçante na alma cravada
A dor que dói mas não mata
A dor que impele e estimula
A dor que nem tudo arrebata
A dor forte e cortante que não anula
A dor sofrimento atroz
A dor rouca que grita calada
A dor de não ter recurso
A dor de consciente saber
Daquilo sou… nada.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Heroínas anónimas

 Algumas são, mas ninguém imagina
A vida de luta de cada heroína
Fazem do sofrimento de cada dia
Força da fraqueza e da tristeza alegria
Há as heroínas na própria dor
Outras há que o são pela entrega e amor
Desde a Olívia a Amélia e a Conceição
A Margarida e a “Sana”heroínas são
A Albertina e a Ermelinda engrossam a lista que nunca finda
A Emília a Celeste, a Sandra e a Luzia
Umas já partiram, outras vivem nas nossas casas
O heroísmo do seu dia a dia
Heroínas anónimas nunca serão capa de revistas
Sua forma de vida não dá nas vistas
Não marcam golos não são notícia
Seu viver é silencioso
A dor que habitam, o amor que dão
Nunca será famoso
Bem hajam pela dedicação e amor
Obrigado pelo sorriso na dor
Em cada mulher uma possível heroína
Algumas são, mas ninguém imagina.

terça-feira, 19 de junho de 2012

O Euro e os euros

Estamos de tanga
Mas estamos no euro
Andamos com as calças na mão
Mas ganhamos à Dinamarca
Estamos falidos
Mas vencemos a Holanda
Não temos trabalho nem casa
Mas entramos nos quartos.
E o povo sai à rua numa euforia sem igual
Está na miséria mas grita por Portugal
Dá vivas à selecção e agita bandeiras
De volta à realidade é o vazio total
E as dores são afogadas em bebedeiras.
Vem o aumento da energia
Pouco importa, Portugal ganhou
O gás subiu dando um grande salto
O povo salta mais alto, o Ronaldo marcou.
Mas voltemos à luta dos quartos…
Portugal vai encontrar uma roliça e robusta Checa
Pode sair derreado da dura refrega
Do catre verde sem colchão
Ou pujante entra nas meias
Se as meias forem limpas até poderá respirar
Se o odor do chulé for forte
Vai ficar um tempo a cheirar.
Mas a grande ironia do euro
É o embate destinado nesta luta
Entre o pequeno David e o gigante Golias
A usurária senhora Alemanha
E a pobre e penhorada Grécia.
Aí sim até eu saltava
A senhora rica fora do euro
Vencida pela escravizada.
Há milagres que os Santos fazem…
E depois… se Portugal deixar o euro?
Catástrofe das catástrofes, vai ser um longo penar
Que fazer neste entretanto, até o futebol recomeçar?
As praças irão continuar vazias
Tão vazias, como quando apinhadas do povo, que…
Sem trabalho, sem casa e sem pão
Gritava por Portugal a pleno pulmão.

domingo, 17 de junho de 2012

Um lugar chamado doença

É difícil viver neste lugar
Não mudei ainda a direção
Porque aqui não quero ficar

Não foi de livre vontade
Que vim para cá morar
Embora custe a mudança
Minha esperança é mudar

Diz o saber dos antigos
Nossa terra é onde estamos
Mas um lugar chamado doença
Não é nada bom convenhamos

Ao ficar por estas paragens
Muitos hábitos abandonei
Exceto a convicção
E a fé que sempre abracei

Pobre de quem se vê só
Sem família e amigos, se aqui morar
Desse infortúnio não me lamento
Mas é difícil viver neste lugar.

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Umas carnes a menos

 Desde que entrei numa dieta forçada, em que posso comer de tudo, mas nada me apetece, começo a repensar a dureza dos meus assentos cá por casa.
Não fora este tempo menos propício a gastos, e teria que fazer um investimento no estofo dos meus bancos. Já pensei até em recorrer à Troika, visto que essa senhora tem acudido à reforma do estofo de alguns bancos mais duros, mas tirei daí a ideia porque os meus bancos não têm cotação bolsista, por isso a forma mais eficaz è começar a recrear as carnes que me foram deixando, e tornaram menos confortável o meu sentar.
Nunca tinha feito a relação entre a carne com o sono, mas hoje constato que com menos recheio o meu cu adormece rapidamente.
Este facto vem deitar por terra, aquilo que sempre foi minha convicção.
A minha teoria era a de que a obesidade, seria a causadora de muito adormecimento e inércia. Puro engano. Hoje sou forçado a convencer-me do contrário pelo que vou vendo e sentindo.
“Magreza de ideias; mentes adormecidas.
Investimentos magros; empresas sem movimento.
Magreza na bolsa do Zé; comercio a dormitar.
País esquelético; povo a dormir.”
 Há quanto tempo se anunciava o desaparecimento das vacas gordas, vieram as vacas magras que mesmo assim possibilitaram o engordar de alguns “machos,” e esses não andam a dormir, por isso tudo fazem para deixar à vista os ossos da ralé e mantê-la adormecida.
Quando nos tiram as carnes, até o cu se nos adormece.

sábado, 9 de junho de 2012

Passividade Calculista

Sim, estive lá, até ouvi.
E depois o que segui?
Sim, estive presente, também constatei.
E depois que aproveitei?
Sim, foi lindo tudo o que vi
E depois como vivi?
Pergunta, sempre a pergunta.
De resposta…nada.
Responder não sei.
Minha, tem que ser a resposta.
Mas eu calei.
Emudeci.
Ainda não pensei no que senti.
Melhor é não pensar.
Deixar andar.
Compromisso igual a decisão.
Por isso, passo… não vou a jogo.
Não quero obrigação.
Ser livre como o vento traz muito sofrimento.
É preciso “saber andar.”
Mesmo que me saiba amarfanhar.
Constatar, ouvir e ver.
Sim.
E depois como viver?

terça-feira, 5 de junho de 2012

Acreditar

Sei que a vida que vivo
Faz sempre maior sentido
Se vivida em relação

Com aqueles que no caminho
Não permitem siga sozinho
Quando a vida é provação

Viver em plenitude
Mesmo na vicissitude
É crer na vida, é ter fé

E caminhando na luz
Mesmo sob o peso da cruz
Ser homem, sempre de pé

Para o amanhã melhor viver
Nunca poderei perder
Valores que são a medida

Que me permitem entrar
Na certeza de alcançar
“O Caminho a Verdade e a Vida”

domingo, 3 de junho de 2012

Costante Presença

Hoje não te vi
Nem sempre te senti
Mas sei que estavas aqui

Não te chamei
Se calhar te esqueci
Mas sei que estavas aqui

Não chorei
Na dor que senti
Porque sei que estavas aqui

Nunca virei as costas
Nunca fugi
Porque sei que estavas aqui

Sempre ganhei
Na vida que vivi
Porque sempre estivestes aqui.

O sorriso da cura

 Enfermagem.
Profissão ou vocação?
A pergunta fica… no ar
A resposta é sempre dada
No agir, na forma de estar

Competência
Consciência
Responsabilidade, rigor
O sorriso o carinho
Formas de dizer amor

 O marido pai e mãe
A família que se tem
A vida particular.
Ao outro, ao doente
Um sorriso para dar

 Firmes gestos
 Passos lestos
Atendimento, serviço prestado
Persistência paciência
No rosto sorriso estampado

Que dizer?
Que fazer?
Sorrir para curar
Profissão ou vocação
A pergunta fica… no ar.