quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Ainda tenho vida com metas

 

Ainda tenho vida com metas?

 Sempre

Mais curtas talvez

Quanto maiores mais falíveis

Já faltam pernas

Coração e pulmão

Delinear metas plausíveis

Ter presente as capacidades

Despertar em cada dia e sentir a vida

Olhar o espelho e sorrir

Agradecer a meta atingida

Projetar as horas seguintes

Com muitas ganas, mas sem certezas

Se for preciso parar para restabelecer

Faça-se a paragem

Mas nunca por acomodação

Assim as metas serão cumpridas

Sem nunca serem compridas.

 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

A foça da voz

 

 

Primeiro sumida distante e impercetível

Depois de sacudida a algazarra interior

Despertei o silêncio que dormia

Passei à escuta

Começando a ouvir o seu clamor

Já não era um sussurro

Era uma voz que me trata a murro

Que sempre me chama pelo nome

Que me sacode e faz bater o coração

Uma voz que atravessa meu peito

Ressoa como tambor estridente em minha mão

Uma voz que me fala no sino da torre

Voz que me abala no fragor do vento

Que me desperta em cada voz que morre

Que me dita a vida nas margens do tempo

Uma voz que me impele no caminho não feito

A voz do homem na luta diária

Tristeza de quem procura sem jeito

Voz que ri como lei primária

Uma voz que brota do seio da terra

Mais audível perto do chão

A voz gritante da farta miséria

A voz da fome não só de pão

Uma voz que grita em cada criança

Que gela nas veias com estupor

Voz que agita o fervor da esperança

Que reacende o fogo do amor

Uma voz que por vezes é calma

Bela meiga e acariciante

Uma voz que ouço sempre bem perto

Se dela não me faço distante.

  

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Consumir antes de...

 

 

Tudo que nasce morre

Qualquer produto tem termo de validade     

Alguns mais que outros

A embalagem pode ser boa à vista

O produto ter condições admissíveis

Mas a data condiciona a circulação

Aos bens de consumo fora de prazo… lixo

Tanta gente a catar o lixo

Ansiosa na procura daquilo que caducou

O “respigador”

Àqueles que dentro das normas atiram fora

Ele agradece e mete para dentro do saco

Da casa

Do “buxo”

Para dentro da sua vida dura

Que dura graças a uma data caducada.

 

Todos temos prazo de validade

Mas o que conta é o estado do produto

E o que fazemos enquanto cá estamos.

Eu vou espreitando os rótulos

Mas não distingo a data-limite.

 

 

 

 

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Há alturasde tudo

 

 

Por vezes dá-me vontade de desmontar a tenda

E despir-me ficando nu de tudo

Caminhar à chuva e dançar como louco

A música que sou obrigado a ouvir, mas nunca aprendi.

Fugir dos obstáculos que sempre me dispus a enfrentar

Não por falta das forças físicas

Mas farto de levar porrada quando os enfrento

Martelado por perguntas a que nunca respondi

Por medo do que fica para lá da resposta

Tornando-me vítima da minha própria arma

Ainda caminho, mas com metas cada vez mais curtas

Não vá ser vencido pelo cansaço e ficar a meio

Como a luz mortiça de candeia que se vai apagando

E não estar desperto para o senhor que chega

Porque o fim pode ser um ampliar da vida

Por isso a vontade de desmontar a tenda.