Primeiro sumida distante e
impercetível
Depois de sacudida a
algazarra interior
Despertei o silêncio que
dormia
Passei à escuta
Começando a ouvir o seu
clamor
Já não era um sussurro
Era uma voz que me trata a
murro
Que sempre me chama pelo nome
Que me sacode e faz bater o
coração
Uma voz que atravessa meu
peito
Ressoa como tambor estridente
em minha mão
Uma voz que me fala no sino
da torre
Voz que me abala no fragor do
vento
Que me desperta em cada voz
que morre
Que me dita a vida nas margens
do tempo
Uma voz que me impele no
caminho não feito
A voz do homem na luta diária
Tristeza de quem procura sem
jeito
Voz que ri como lei primária
Uma voz que brota do seio da
terra
Mais audível perto do chão
A voz gritante da farta
miséria
A voz da fome não só de pão
Uma voz que grita em cada
criança
Que gela nas veias com
estupor
Voz que agita o fervor da
esperança
Que reacende o fogo do amor
Uma voz que por vezes é calma
Bela meiga e acariciante
Uma voz que ouço sempre bem
perto
Se dela não me faço distante.