sexta-feira, 24 de julho de 2020

Qual o meu jogo?


Na classificação geral a vida sempre em primeiro

A vida é mais que desporto

É mais que ganhar ou perder

Deverá ser constante vitória (se me contento com pequenas vasas)

Depois é consoante o jogo que faça

Perigoso é jogar no escuro (não vendo o que se tem em mão)

Arriscar fazendo bluff 

Abusar indo a jogo sem trunfos

Por vezes mesmo quem pensa ter bom jogo empata, empata até sair derrotado

A batota, o trunfo na manga um dia é descoberto e acaba-se o jogo

Tudo apostar esperando pela sorte pode ser derrota que se liga ao azar na vida

Como jogo com a minha vida?

Como jogo a vida?

A vida é muito menos cheia de prosápia do que a morte

É uma espécie de maré pacífica, um grande e largo rio

Na vida é sempre manhã e está um tempo esplêndido e convidativo para um bom jogo em perspetiva

Ao contrário da morte, o amor, que é o outro nome da vida, não me deixa morrer às primeiras: obriga-me a pensar em Deus, o meu ás de trunfo, nas pessoas, nos animais e nas plantas de quem gosto e que um dia vou abandonar, porque há jogos que não duram sempre

Quando a vida manda mais em mim do que a morte, amo os que me rodeiam, e cresce de repente no meu coração a maré da vida.

Cada lágrima que me escorre por vezes pela cara ao adormecer, é sinal de que não usei bem o jogo que me foi distribuído

Por cada aperto de angústia na garganta que sinto quando acordo, corro à janela que abro de par em par e agradeço a Deus por mais um dia

Mas tenho alguns assomos de tristeza que me obrigam a sentar, por vezes em reflexão na minha cadeira favorita, e que me acompanha na oração, nesse jogo sem vencidos, ou na conversa com o céu que me embala o espírito

A fé levou-me a deixar para trás ideias que me assaltavam como tentação

Ei-la nas palavras que Mateus atribui a Cristo (Mt 10, 39), palavras que iluminam como um relâmpago – e resolveram na minha cabeça e no meu coração – a maneira por vezes hesitante com que lido com o jogo da minha situação.

“Aquele que conservar a vida para si, há-de perdê-la; aquele que perder a sua vida por causa de mim, há-de salvá-la”.

sábado, 18 de julho de 2020

Mea Culpa

 

A culpa nunca a atribuí a ninguém

Se alguma há, no que vai acontecendo

Ela, a culpa, é minha

A força manifestada

A vontade de caminhar

É meu empenho e decisão

A partir daí há coisas que descambam

Se mostro que posso, porque não faço?

Se digo que tenho porque não dou?

Pode nem parecer, mas tenho consciência da minha finitude

Posso nem mostrar, mas sei bem o que escondo

Quando por acaso um dia cair

Sei que terei quem me levante

Como me vou mantendo hirto e firme

O apoio nem sempre acontece

Vitimizar-me nunca foi opção

O estigma do coitadinho, dispenso

Mas por favor não empurrem

Porque posso desequilibrar-me

E eu faço gosto em manter-me ainda algum tempo de pé

Embora tenha consciência que se algo corre mal

Um homem até tropeça nas unhas dos pés.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

O não convívio

O que faz comunidade é o Batismo em Cristo Jesus.

O que une a comunidade é o empenho, a busca, a determinação, o querer fazer nossos os sentimentos de Cristo Jesus, de quem fomos revestidos.

Assim, ter simpatia por esse ou aquele movimento, participar desse ou daquele grupo, sentir-se mais ou menos identificado com esse ou aquele serviço, ter ou não ter estudos, estar investido deste ou daquele ministério, o estar ligado mais ou menos na vida quotidiana da comunidade, devia fazer sentirmo-nos como parte de um todo, que é a Paróquia.

O que verdadeiramente importa é o testemunho do compromisso que damos (ou não), e que provém da fé assumida no Batismo, que cada um tem na comunidade em que se insere. Esse empenho não é atual ou antigo, nem ultrapassado ou moderno, conservador ou progressista: Ele é sempre novo, pois devia ser sempre desejo e determinação de renascer em “Espírito e Verdade”, hoje mais que nunca.

A dimensão comunitária da fé cristã, ao longo da história, expressou-se sempre de diferentes modos. Hoje, lugar privilegiado de expressão da fé cristã são as Paróquias. Elas continuam a ser o lugar significativo onde o cristianismo se torna visível.

Ali os batizados encontram-se na celebração dos mistérios da salvação, exercitam-se na caridade e anunciam o que creem, e festejam juntos essa alegria. Portanto, a comunidade cristã caracteriza-se pela comunhão dos batizados que formam uma Paróquia, e vivem essa característica. Nenhuma comunidade cristã, nenhuma Paróquia é uma ilha! Também não é um ‘gueto’ ou espaço de ‘privilegiados’. Ela é lugar de vida, que deve ser vivida, manifestada e festejada.

Vem esta reflexão a propósito do primeiro Domingo de Julho, este ano de 2020, o dia 5.

Se não estivesse-mos a viver este tempo “espacial”, devia ter acontecido o convívio paroquial São Félix/ Serzedo.

Se o tempo não fosse de pandemia teria acontecido?

Se calhar não. O vírus há muito se minha manifestando. De ano para ano a participação ia diminuindo. Havia grupos de pessoas que já se resguardavam e não se queriam contaminar, (por serem grupos de risco) e foram riscando da agenda do dia do ajuntamento.

Nos últimos anos não era exigida a distância social, mas essa distância começou a notar-se, talvez adivinhando o tempo que hoje estamos a viver, porque ouve sempre gente que vê muito ao longe.

A máscara também era dispensável, mas muitos já a usavam e ficavam por outros afazeres, porque o vírus atacava grupos e famílias completas.

O vírus na altura não era o COVID, eram outros que ainda hoje são perigosos. O CAFICO, o CAMEQUERO, o VAITU etc.

Não havia confinamento e os vírus alastraram-se.

O comodismo, o desinteresse, o não relacionamento, e outros malesinhos ruins, (que nem é bom dizer debaixo de telha)

Neste tempo que nos condiciona em muito, a nossa gente tem muita saudade de ir à bola, ao café/restaurante, à praia, não se fazem as costumeiras festas, as peregrinações/procissões, e os lamentos são muitos e de vários quadrantes. Do agendado há vários anos para o primeiro Domingo de Julho, nem um só lamento ouvi. Nem um pio, néria, nada.

Acredito que a meia dúzia de valentes que sempre estão na frente de combate, não se negariam (ou negarão) a esforços para que o convívio Paroquial possa acontecer, porque senão. (eu sou testemunha de como eram vividos os convívios paroquias).

Pobre convívio que morres e és enterrado sem velório, e sem uma palavra de lamento.

Pobre Paróquia. Eu lamento.