sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Na rua abrigado

Depois da “bica”
Sair para a rua.
Entrar em casa
A rua.
Ampla casa
A rua.
Cozinha sala e quarto
Um quarto nunca é o todo.
A rua sim, é sua.
Toda.
Os que passam na rua
Na sua casa
Não pedem licença
Nem o saúdam
Não lhe passam “cartão.”
À noite vem a vingança
Enrosca-se nele
É seu cobertor.
O cartão.
De manhã estica as pernas
Dobra o cartão
O quarto da casa arrumado.
Entra na tasca
Toma a “bica”
Sai para a rua.
Entra na sua casa
A rua.

sábado, 25 de janeiro de 2014

O valor das pequenas coisas

O pequeno gesto por mim feito, pode ser pequena coisa, nada me custar, mas ter grande valor para o outro, quando essa pequena coisa o deixa feliz.
Estava longe de imaginar o episódio porque ia passar, quando saí de casa com a lista das tarefas para o exterior. O certo é que tocado por esse acontecimento a primeira das tarefas foi alterada, devido ao turbilhão que me ficou a bailar na cabeça, depois daquilo que designo de boa ação do dia.
Ia na rua conduzindo, quando vejo uma bola vermelha na berma da estrada contrária à frontaria da escola. Supondo ter vindo do interior dos muros escolares, resolvo parar para a devolver à procedência.
Não tinha ainda reparado na plateia pendurada no portão e empoleirada no muro, com os olhitos fitos na rua na ânsia da recuperação da bola, mas aos gritos de alegria dos mais pequenos enquanto me dirigia para o almejado esférico, fui obrigado a sorrir, porque nunca tinha sido tão ovacionado por coisa tão pouca e de simples feitura, (a meu ver, claro).
O facto de que a felicidade dos miúdos estava em terem a bola de volta, medi-a pelas suas palavras de agradecimento: --
Obrigado senhor.
O senhor vai ter uma recompensa.
O senhor é o senhor melhor do mundo.
Claro que também fiquei feliz, não por tamanho elogio, mas por saber ter contribuído para a alegria dos miúdos que me agradeceram com palavras de tal grandeza.
Não sou de certeza o senhor melhor do mundo, mas tenho a consciência plena, que posso sempre fazer algo pela felicidade dos outros.
Posso não ter possibilidades de ofertar grandes prendas.
No porta moedas bailarem à vontade umas pequenas moedas de cêntimo.
No carro a luz da reserva andar acesa pelo gasóleo estar no fim.
Mas posso sempre parar o carro, quando tenho a percessão que uma bola fora das paredes da escola, está a fazer falta a quem brinca com ela no interior.
Ao fazer isso, devolvendo-a ao recreio escolar, dá-se a felicidade aos “Eusébios e Ronaldos” que vão fintando na vida com uma bola vermelha, enquanto não crescem em idade, despertando aí para um mundo onde ninguém lhes passa bola.

sábado, 11 de janeiro de 2014

Espera constante

Viver sempre a esperar
Uma espera sem condições
Tendo sempre as mesmas razões
Recetivo ao que chegar

O que vier vou aceitar
Interpondo mil questões
No equilíbrio de quedas e tropeções
Espero firme sem vacilar

Espero estando à procura
Fazendo do tempo o crivo
As sementes crivadas
Nesta espera sem agrura
São alimento de que vivo

Na espera se vive pendente
Sem depender das certezas
Sendo forte nas fraquezas
Valorando o tempo presente

Esperando e fazer caminho
Sem nunca parar sentado
Seguindo o trilho traçado
Sabendo não esperar sozinho.