sexta-feira, 30 de maio de 2014

Borrasca

Depois da intempérie no alto mar
Atraquei em desabrido porto.
Minha embarcação fragilizada
Com o casco constantemente açoitado
Abre rombos que procuro esconder
Fendas profundas, esguias e traiçoeiras.
Os surdos gritos lancinantes
Que só a noite perscruta
Jazem no fundo féretro
Ecoando agoirentos num lamento.
A âncora nunca lançada
Faz do barco velha dançarina
Ao som de frenética sinfonia
Tocada por altas ondas.
E o mar que nunca acalma…
Para quando um sol de nascente
Até quando a noite de breu
Este estio desesperante
Golpe certeiro que rasga a vontade da luta.
Amainai tenebrosas ondas
Aplacai-vos ventos assassinos
Apiedai-vos da minha pobre embarcação
Deixai que lhe repare os danos
Que lhe sare os profundos lanhos
E mesmo que jamais navegável
Presa por grossas amarras
Fundeada eternamente no porto
Permiti-lhe um casco limpo.

Sem comentários:

Enviar um comentário