quarta-feira, 28 de junho de 2023

A cor da ovelha

 

O país era a Suíça, o acontecimento da altura era a campanha eleitoral, o motivo de preocupação para os imigrantes, em especial os portugueses, era um cartaz que apareceu na campanha de um partido de direita que ilustra a imigração com uma ovelha preta.

“Com os diabos!" A ovelha negra já conhecia, há-as em todos os rebanhos, às vezes disfarçadas de alva lã. Agora a preta, não será carregar muito na tinta?

Tempos houve em que para controlar um rebanho bastava um pastor que soubesse assobiar, um cão que ladrasse bem e desse umas corridas à volta das mais teimosa e tudo ficava na santa paz dos montes. Agora, há cada vez mais cães a ladrar, os pastores são aos montes, chegam-nos via Brasil parecendo doutores, e os rebanhos cada vez andam mais tresmalhados. Não há condições!

A imagem que eu tenho do pastor que gosta das ovelhas, é aquela em que ele, pegando-lhe pelas patas, a põe às suas cosas quando esta, por algum motivo, não consegue andar. Hoje as ovelhas já não calcorreiam os montes, as pedras são-lhe tiradas do caminho, mas mesmo assim continuam a achar que o pastor tem de andar com elas ao colo. 

Já não há rebanhos como antigamente e os existentes tendem a acabar, ou por consequência da doença da brucelose, ou então por esta nova designação da “língua azul”. Bem feita, porque mudaram de cor? Não lhes bastava os verdes pastos, para que meteram a língua na tinta? Modernices, é o que é, e assim os rebanhos vão acabando. 

Já ninguém liga ao pastor e o gado ovino, onde havia mais fêmeas que machos, passou a ser maioritariamente composto por carneiros. As ovelhas existentes são mais negras que brancas, e agora os únicos cordeiros que conheço são: um, que é o verdadeiro Pastor, e  outro um amigo que vive em Espinho e que, por acaso, é oriundo de África. Ele há cada uma!

 

sábado, 24 de junho de 2023

A limpar a "Sagrada Família"

 

 

Ao fazê-lo pensava:

Como é possível ao fim de um ano acumular tanto bolor?

Refiro-me a uma linda imagem da Sagrada Família talhada em pedra, que temos em casa desde há uns anos.

Ia limpando e refletia: (deixando a imagem de lado, e imaginando)

Toda a família é sagrada, mas nem em todas se pode utilizar esta forma de limpeza, o que seria bem mais fácil, diga-se.

O lixo que as famílias vão deixando encrostar é bem mais difícil de limpar.

Há escovas e detergentes que não se querem usar, e as reentrâncias são muitas e por vezes impenetráveis.

Voltando à imagem de pedra:

Ao limpar o São José, reparei no seu rosto sério, mas resignado que parecia dizer:

Mau, olha o respeitinho, não se toca na barba de um homem sem haver confiança suficiente e respeito.

Ao limpar Maria vi uma mulher linda que me dizia:

Por favor, não magoes meu filho.

Depois com muito cuidado, ouvindo ainda as palavras de Maria, limpei o rosto de Jesus.

Continuava risonho e sereno.

Não acusou o roçar do pelo da trincha que o ia limpando.

Não se riu mais do que o sorriso já estampado na imagem, o que me levou a concluir:

Jesus não reage a cócegas.

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Faz-te ao Largo

 

 

Busca e encontrarás

Sê fermento e levedarás

A massa que fará o pão.

Alimento de alegria

Que se torna em cada dia

Os pontos de união.

Faz do tempo um bordado

Que se veja em todo o lado

O primor da agulha que manejas.

Não percas o fio à meada

E na renda da amizade criada

A vida será, o lavor que tu desejas.

 

(Escolinha de Lavores)

15 de junho 2023

               Álvaro Rocha