sexta-feira, 24 de abril de 2015

Sem sentidos

Encontrei o que não queria
Procurando o que precisava
Ouvi o que não devia
Sem querer escutar nada.
Vislumbrar de olhos vendados
O que não vejo à luz do dia
É tatear espinhos afilados
Provar o outro lado da alegria.
Inalar a miséria do mundo
Tem gosto de atroz terror
É entrar num poço bem fundo
Cair entre fungos e bolor.
Ter os sentidos alerta
Fingindo não estar atento
É viver de porta aberta
Ser asilo no sofrimento.
Se um dia a visão me faltar
E o ouvido for perdendo
Resta-me a vida apalpar
Cheirar melhor o que vou tendo.

sábado, 11 de abril de 2015

Dilema

Carreguei nos ombros nus
A densa bruma matutina
Tarefa imposta por uma noite mal dormida
Peso do qual me desfiz
Quando o sol rompeu pela tarde.
Dos olhos
Grossas lágrimas
Tanino da verde árvore
Ao corte submetida.
Nos pés arrastava
O desgosto das coisas não feitas
E o ressentimento dum passado sofrido.
Na minha cabeça
Um torvelinho agudo
Massacrando com estrondo
Qual mar nas rochas partido.
O andar em frente é recuo no tempo
Quando no recuo o sonho é mantido.
Até quando esta sede de força
Para quando a força implorada.
Esperar o sossego da noite
É dar o peito à metralha diária
Num sentir de corpo baleado
Numa vida que nunca de guerra
Mas pelejada por muitas batalhas.

sexta-feira, 3 de abril de 2015

A face da hipocrisia

Entre seja bem vindo
Pela porta se faz favor
Quem entra pela janela
É ladrão salteador

Não finja se me não suporta
Não diga ser meu amigo
Não quer entrar pela porta
Não entre pelo postigo

Ter o telhado de vidro
É ter a vida iluminada
Ter escudo protetor
É abrigo na pedrada

Não finja nem se esconda 
Quando não quer assumir
Não vive nunca sorrindo
Quem vive sempre a fugir

Assobiar para o lado
Sem ligar ao que vai mal
Assim se vai enganando
Sendo hipócrita sem moral.