sexta-feira, 28 de março de 2014

O vento em pranto

Comodamente sentado diante de “Jesus escondido”
Num silêncio que era rezado e foi de repente rompido.

O vento parece querer entrar
Não sei se para rezar tal a violência do seu rugir
Numa escuta aturada
Sinto-o surgindo do nada e suas mágoas carpir.

São gritos dilacerantes
Vindos dos vários quadrantes.

Como arrepio que se sente
Angustiados lamentos de gente
Se confundem com o vento
E os que vivem no momento a dor da separação
Têm no vento um aliado
Que chora que nem desalmado
Num pranto em convulsão.

De repente volta o silêncio cortado
Num vento também sentido
E eu continuando sentado
Diante de “Jesus escondido”.

quarta-feira, 19 de março de 2014

Pai porque sim...

Foram os meus filhos que quiseram.

Porque nasceram me fizeram.

Pai. Papá ou Paizinho.

Qualquer designação
Enche meu coração

A alegria que dentro me vai
E me faz sentir feliz
Está em me sentir como pai
Sendo árvore com fruto e raiz. 





                                                                                             19 Março 2014

sexta-feira, 14 de março de 2014

A força da voz

Primeiro sumida distante e impercetível
Depois de sacudida a algazarra interior
Despertei o silêncio que dormia
Passei à escuta
Começando a ouvir o seu clamor
Já não era um sussurro
Era uma voz que me trata a murro
Que sempre me chama pelo nome
Que sacode e faz bater o coração
Uma voz que atravessa meu peito
Ressoa como tambor estridente em minha mão
Uma voz que me fala no sino da torre
Voz que me abala no fragor do vento
Que me desperta em cada voz que morre
Que me dita a vida nas margens do tempo
Uma voz que me impele no caminho não feito
A voz do homem na luta diária
Tristeza de quem procura sem jeito
Voz que ri como lei primária
Uma voz que brota do seio da terra
Mais audível perto do chão
A voz gritante da farta miséria
A voz da fome não só de pão
Uma voz que grita em cada criança
Que gela nas veias com estupor
Voz que agita o fervor da esperança
Que reacende o fogo do amor
Uma voz que por vezes é calma
Bela meiga e acariciante
Uma voz que ouço sempre bem perto
Se dela não me faço distante.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Espelho meu...

Quando me olho no espelho
Ele sempre mostra
O sorriso ou a lágrima a ruga ou outro sinal

Repudiá-lo era a vontade
Mas o espelho não engana
É fiel
Para o bem e para o mal

Olhar o espelho sem luz
Querendo fugir à verdade
É recusar a cruz por teimosia ou vaidade

Olhar-me no espelho
E ver o outro eu
É despir-me do entulho e por a vida ao léu

Na nudez da minha vida
Experimentar nela viver
Encontro sempre guarida na aridez que vier

Se na cara mostras a alma
Ainda que de ti fuja
Enganas com linda face o lixo da alma suja

Brilha não fiques baço
Refelete como dever teu
Ainda que apertes o laço
Não me enganes espelho meu…

sábado, 1 de março de 2014

Introspeção

Poesia diz-se e escuta-se
É oral não cabe num livro
Quando falamos dizemos
Mas se silêncio fazemos
Usamos o nosso crivo.

Em cada silêncio da minha vida
Sempre falo contigo
Numa nudez absoluta
Sem segredos nem medos nem luta
Onde nunca calar é castigo.

Sinto uma imensa pena
Me compadeço por ti
E a lágrima que verto
Nem de longe nem de perto
Diz o que sempre senti.

Rompo com meus pensamentos
Corro o tempo que já passou
Quando descubro meu nada
Dou comigo nesta estrada
Que me leva onde estou.