sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Tirar bilhete

É a nova designação para doença cancerosa.
Para mim esta fórmula é nova.
Fiquei a conhece-la há dias conversando com alguém que anda em tratamento.
(A que eu mais conhecia era ter a vida por um fio)
Contava esse alguém, que ao dar conhecimento a um amigo do que se passava ele lhe dissera:
- Então já tiraste bilhete.
Grande amigo pensei eu.
Muito animador para quem lida com essa situação.
Mas porque já passai por igual experiência não foi grande a minha admiração.
Surpreendido fiquei sim pela resposta dada pelo doente que padece de cancro.
“Já. Já tirei bilhete. Quando nasci o bilhete foi tirado.”
Espectacular.
Parece resposta de alguém com cadeira professoral.
Não é o caso, mas mais uma vez aí estão os humildes confundindo aqueles que parecem saber tudo. “Quando nasci o bilhete foi tirado.”
É facto, no nascimento começa a VIAGEM.
Para TODOS.

Uns fazem-na de avião. Mesmo aí havendo diferença. Viajando em económica ou executiva, ninguém pode dizer com certeza quando termina a viagem. Os aviões também sofrem despenhamentos.
Pode a viagem ser feita de comboio, onde por vezes acontece estes descarrilarem.
Feita de automóvel pode também a viagem acabar em despiste.
Outros há, que entram na viagem simplesmente caminhando, fazem viagens mais curtas, com mais dispêndio físico, mas nunca seguros de fazerem viagem mais demorada, pois acontecem muitas quedas e até atropelamentos por outros que viajam de outras formas.
Quem sabe onde termina a sua viagem?
Eu continuo a gozar da beleza da minha viagem.
Interrupções, percalços, alguns acidentes, mas avanço admirando a paisagem com a cabeça de fora, ciente que a viagem um dia termina.
Depois do bilhete tirado à nascença caducar, já o validei, (quando apanhado pelo revisor do cancro). Por isso, com o bilhete no bolso, lá vou eu na minha viagem, tocando a vida, até quando Deus permitir.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Fragilidades

Assim é o amor
Frágil
Como criança recém nascida
Deve ser cuidado com carinho
Esmero
Leveza no tocar
Sem arranhar para não ferir
Bem alimentar para crescer
Florir
Entrega sem cobrança
Dar-se por inteiro
Na necessidade ser primeiro
Dar a mão
Na fragilidade não vista
Ao primeiro olhar
Na doença que não se nota
Só a vê quem a toca
Quem reconhece quem sofre
Quem vive a fragilidade da doença
O que bem trata porque é cuidador
Lida com um ser frágil
Sofre com o sofrimento
Com a dor
Com a fragilidade
Porque assim é o amor.

                                                                                  (Dia mundial do doente)