sábado, 31 de agosto de 2024

Quando o calor escalda

 

 

Há outro calor que mais gosto

O do conforto interior

Não o calor do tempo

Este inferno imaginado

Que me deixa derrotado

Destruído fisicamente

Como casa depois de um tornado

O suor no rosto é sangue salgado

Que me encharca e deixa toldado

Que me ofusca o pensamento e tisna a pele

Até quando esta luta

Entre o querer e não poder

Entre o estar e não ser

Existir e saber morrer

E sem fazer por merecer

Ficar

Permanecer

Ter a porta aberta e não sair

Ter a mala feita e não partir

Porque a etapa não terminou

E o tempo que me ficou

Mesmo com calor infernal

É de viver e não fugir.

 

sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Porque não te calas?


 

 

Falar sobre aquilo que não sei

É mergulhar no lodo

Atulhar-me no ridículo da minha ignorância

Falar pensando que sei

Abrir a goela e vociferar

A fazer alarde da minha prepotência

No meu dizer arrogante

Nem noto que o outro apenas me suporta

Acordar urge

Para tomar consciência do pouco que valho

Não será por muito berrar que serei ouvido

Se calhar só ferirei os tímpanos

Porque não me calo?

Calo do verbo calar

Não o da pele endurecida

Essa entrou-me no cérebro

Sendo entrave ao meu pensar

Perco o meu tempo a dizer o que ouço

Perco o meu tempo a falar o que ouvi

Porque não me calo e espero saber?

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Viver com

 

 

Conviver contigo não é fácil

Nunca gostei de ti

Entraste e ficaste na minha vida

Adaptei-me à relação

Mas não sou feliz contigo.

Sempre me condicionas sem nunca dizer palavra

Chegas a ser maçadora

Por vezes tornas-te um peso.

Seguimos de braço dado

Já fazes parte de mim

Sendo amarga e arrogante

Não consegues roubar-me o ânimo

Em frente sigo

Firme e sorrindo

Esquecendo o mal que me fazes

Sempre à espera do ataque.

Por tua causa já estive acamado

Precisando mesmo de assistência médica.

Se dependesse de mim pedia a separação

Mas porque teimas em ficar

Vamos seguindo juntos

Mas não me peças de mais.

 

quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Viver com

 

 

Conviver contigo não é fácil

Nunca gostei de ti

Entraste e ficaste na minha vida

Adaptei-me à relação

Mas não sou feliz contigo.

Sempre me condicionas sem nunca dizer palavra

Chegas a ser maçadora

Por vezes tornas-te um peso.

Seguimos de braço dado

Já fazes parte de mim

Sendo amarga e arrogante

Não consegues roubar-me o ânimo

Em frente sigo

Firme e sorrindo

Esquecendo o mal que me fazes

Sempre à espera do ataque.

Por tua causa já estive acamado

Precisando mesmo de assistência médica.

Se dependesse de mim pedia a separação

Mas porque teimas em ficar

Vamos seguindo juntos

Mas não me peças de mais.

 

Dia que não esqueço


Faz hoje 12  anos.
Foi a 29 de Agosto de 2012, às primeiras horas da manhã, a entrada no bloco Operatório. 
Algumas horas numa árdua batalha para me tirarem o “Bicho”. (Cancro Gástrico) 
Obrigado Dr. Fernando Viveiros e equipa.
Mas a saga para domínio do “Bicho” tinha já começado semanas antes com a Quimioterapia. (Ainda nos contentores. Quem se lembra?)
Equipa sensacional, com a Dra. Ana Paula Cândido Costa médica de Oncologia. 
As enfermeiras: Anabela Amarelo, Geninha, Sónia, Isabel, Irene e a Tininha. 
(sem esquecer o médico de família Dr. Costa Ramos.)
Semanas de tratamento num são convívio, em que o amor e dedicação são lema. Numa eficácia simpática, onde nos leva a nós doentes a esquecer as nossas dores, e a reforçar a esperança. Obrigado.
O meu corpo mudou. Mudou a alimentação, numa constante adaptação, mas continuo a ter uma “Vida Vivida”. (Título do livro de poesia publicado em 2011)
Na altura nem nos pesadelos mais atros, podia imaginar o que veio em 2012. (coincidências)
Vida vivida, dia de festa este 29 de Agosto e todos aquele que espero vir a festejar.
“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10-10)
A abundância da minha vida, é a forma como quero viver, e não o muito que possa ter.
Será que o gosto pela vida e a fé, tiveram influência no resultado? Se calhar…
Obrigado, Bom Pai. Obrigado a todos os que estiveram no meu caminho. Família, amigos, (e muitos) E agora limpo a lágrima do canto do olho, sem pieguices, sem drama mas com muito reconhecimento.
Estamos por aqui.

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Eu e sofrimento do outro

 

 

Entardeci com um grande peso

A noite veio com grande fardo

Adormeci num sono pesado

Nada dormido porque alterado

A noite avançava a passo lento

E eu lutava, mas não dormia

Porque de noite sempre pensava

No jugo molestador do dia

Oprimido interiormente

Pela angústia dominado

Descansar meta inatingível

Na noite durmo acordado

Quem é o meu opressor

Quem me castiga e faz sofrer

Quem conduz a minha vida

Quem arca com esse poder

Só eu… e pobre de mim

Que vivo sofro e resisto

Ao castigo que me imponho

De querer mas não poder 

O fardo do outro pegar

ver e sentir que é medonho

Ah se eu pudesse nele pegar

Se eu conseguisse

Só por momentos e ajudar

Aliviando no outro a dor

Avançaríamos melhor

E um no outro amparado

Retomaríamos caminho

E se há margem que nos separa

O rio seria galgado.

 

 

domingo, 25 de agosto de 2024

Dias de inverno quando é verão

 

 

A chuva martela nas telhas

Por cima da minha cabeça.

Na minha secretária improvisada

Com as costas a oeste resguardadas

Olho a este sem parede

Para onde a inclinação do telhado

Faz cair as gotas da chuva

Hoje transformadas em cascata.

Ao longe os choupos parecem dizer-me adeus

Com os ramos num bailado frenético

Ao som de música ininterrupta

Em que o vento é autor e compositor

A trovoada que não ouço, mas vejo no clarão dos raios

Associou-se na borrasca

As faíscas parecem flashes de máquina

Querendo fotografar este dia de céu carregado e negro.

As ervas no campo agitadas e erguidas

Sorvem a água que não cessa de as fustigar.

Entre o barulho da chuva e do vento

O lúgubre tocar do sino na torre da igreja

Dá sinal de que alguém parte. 

E fazem pensar naqueles que sempre foram

E estiveram na frente da luta

Sim porque os soldados mesmo que sejam da paz 

E anunciem o Deus da paz

Infelizmente também sofrem

Dia negro de coração despedaçado

De olhar toldado pelas lágrimas

De pernas bambas e mãos trémulas

Porque estes dias menos claros

Em que as vidas desabam como a chuva

Deixam a nossa alegria de viver

Inevitavelmente mais triste.

E eu que tanto queria sorrir

E viver a vida alegremente

Não consigo sentir alegria.

Perdoa-me Senhor pela minha teimosia

Mas continuarei sempre a procurar-Te