domingo, 1 de janeiro de 2023

Borrasca

 

 

Depois da intempérie no alto mar

Atraquei em desabrido porto.

Minha embarcação fragilizada

Com o casco constantemente açoitado

Abre rombos que procuro esconder

Fendas profundas, esguias e traiçoeiras.

Os surdos gritos lancinantes

Que só a noite perscruta

Jazem no fundo féretro

Ecoando agoirentos num lamento.

A âncora nunca lançada

Faz do barco velha dançarina

Ao som de frenética sinfonia

Tocada por altas ondas.

E o mar que nunca acalma…

Para quando um sol de nascente

Até quando a noite de breu

Este estio desesperante

Golpe certeiro que rasga a vontade da luta.

Amainai tenebrosas ondas

Aplacai-vos ventos assassinos

Apiedai-vos da minha pobre embarcação

Deixai que lhe repare os danos

Que lhe sare os profundos lanhos

E mesmo que jamais navegável

Presa por grossas amarras

Fundeada eternamente no porto

Permiti-lhe um casco limpo.

 

Sem comentários:

Enviar um comentário