sexta-feira, 18 de novembro de 2022

A Fome alastra

 

A fome saiu à rua, foi andando de mansinho sorrateiramente à procura de guarida no intuito de se instalar. Não avisa quando vem, mas quando aparece é para ficar e, dificilmente é desalojada.

Não entra em todas as casas porque algumas já se precaveram contra essa praga.

Preveniram-se a tempo com altas grades de protecção, com sofisticados sistemas de alarme e câmaras de vigilância, e assim a dita não consegue entrar.

Mas a fome não desiste, continua imperturbável o seu caminho e entra em zonas mais fragilizadas onde as ruas são tugúrios e as casas são abarracadas.

Aí não há resistência de qualquer espécie e ela nem precisa que lhe abram, qualquer brecha das muitas que tem a construção permite a sua penetração.

E há muitas casas que estão em risco de desmoronar por tantas fendas feitas na tosca construção.

É a “fenda” do desemprego, a “fenda” da baixa escolaridade.

A “fenda” dos baixos salários, a “fenda” da velhice e da doença, a “fenda” da marginalidade e da marginalização, a “fenda” da exclusão social, a “fenda” da falta de capacidade intelectual e tantas outras que fazem das paredes um buraco só.

Mas a fome continua a avançar e entra noutros domínios.

Ela é companhia assídua de jovens casais que optam por conviver com ela para não faltarem a outros compromissos.

É pendura e anda sempre à boleia.

Acompanha os seus “portadores” para a escola, para o trabalho, para as ruas e becos, e volta de novo para as casas onde mora de favor, e aí é muito mais sentida e notada.

A fome está no insucesso escolar, está nas desavenças familiares, mas, também vai ao futebol, vai aos espectáculos de Rock, porque como diz o povo” anda muita fome encoberta”.

Mas como nem só de pão vive o homem e do outro Alimento também poucos o procuram, cada vez temos mais fome a descoberto, e ela campeia em muitos lugares que se pensavam interditados.

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