segunda-feira, 11 de maio de 2020

A fome campeia

A fome saiu à rua, foi andando de mansinho sorrateiramente à procura de guarida no intuito de se instalar.
Não avisa quando vem, mas quando aparece é para ficar e, dificilmente é desalojada.
Não entra em todas as casas porque algumas já se precaveram contra essa praga.
Preveniram-se a tempo com altas grades de protecção, com sofisticados sistemas de alarme e câmaras de vigilância, e assim a dita não consegue entrar.
Mas a fome não desiste, continua imperturbável o seu caminho, e entra em zonas mais fragilizadas, onde as ruas são tugúrios e as casas são abarracadas.
Aí não há resistência de qualquer espécie, e ela nem precisa que lhe abram as portas, qualquer brecha das muitas que tem a construção permite a sua penetração, e há muitas casas que estão em risco de desmoronar por tantas fendas feitas na tosca construção.
É a”fenda” do desemprego, a “fenda” da baixa escolaridade, a “fenda” dos baixos salários, a “fenda” da velhice e da doença, a “fenda” da marginalidade e da marginalização, a “fenda” da exclusão social, a “fenda” da falta de capacidade intelectual e tantas outras que fazem das paredes um buraco só.
Mas a fome continua a avançar e entra noutros domínios.
Ela é companhia assídua de jovens casais, que optam por conviver com ela para não faltarem a outros compromissos.
É pendura e anda sempre à boleia.
Acompanha os seus “portadores” para a escola, para o trabalho, para as ruas e becos, e volta de novo para as casas onde mora de favor, e aí é muito mais sentida e notada.
A fome está no insucesso escolar, está nas desavenças familiares. Mas, também vai ao futebol, vai aos espectáculos de Rock, porque como diz o povo” anda muita fome encoberta”.
Mas como nem só de pão vive o homem, e do outro alimento também poucos o procuram, cada vez temos mais fome a descoberto, e ela campeia em muitos lugares que se pensavam interditados.

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