quarta-feira, 18 de abril de 2012

A minha praia

Pode parecer mentira, mas quando era mais novo era muito mais abastado. Nesse tempo possuía muitos bens.
Tinha montes e montes de sonhos.
A minha terra era linda
Campos e mais campos a perder de vista.
Tinha os meus vizinhos.
Os meus amigos.
Agora comecei a entrar em dificuldades.
Os montes foram aplanados.
Os sonhos; Alguns foram e são vividos.
Outros estão bem acomodados à espera de oportunidade.
A minha terra já não é terra, é cimento e alcatrão.
Os vizinhos hoje já não são meus, são só vizinhos, e alguns nem chego a conhece-los, são vizinhos de ocasião.
Os amigos, esses sim, ainda tenho, e digo meus.
Pois, mas não são todos aqueles a quem digo olá.
Os meus amigos são amigos, sempre, e são meus.
Mas saudades a sério tenho sim é da minha praia.
Perdia. Deixei de a frequentar, ocupar, visitar.
Fiquei sem a minha praia.
Hoje é pertença de outros donos, adquirida por usucapião.
Está muito mudada aquela que foi a minha praia.
Se por acaso hoje a olho de longe, nem a reconheço.
Nunca aprendi a nadar, por isso nunca entrei nela de qualquer forma, nem mergulhei de qualquer maneira.
Aquela que foi a minha praia era maravilhosa.
Tudo que a compunha extasiava.
A areia, rochas e pedrinhas, a água e a espuma, tudo era lindo.
Deleitava-me a olha-la, e mesmo de noite quando a visitava, eu via a minha praia reflectida no luar, do escurecido céu, ou no cintilante brilho das estrelas.
Adormecia a olhar no firmamento a minha praia.
Com o corpo dormente enterrado na fina areia.
E sonhava. Sonhava com uma terra linda.
Construída de montes e montes de sonhos, em que nem todos os amigos eram meus vizinhos, mas em que os vizinhos eram amigos.
Que bom era sonhar.
Que bom era ter de novo a minha terra.
Que linda era a minha praia.
Como lamento tê-la perdido.

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