sábado, 17 de março de 2012

Carta ao amigo jardineiro

Olá caro amigo, como te vais dando por aí?
Cá no nosso jardim os jardineiros abundam, surgem aos magotes sempre prontos a substituir algum que abandona a jardinagem por não concordar com o jardineiro chefe. Quem entra é de publicitada competência, mas de flores nada, a terra está cada vez mais nua.
Há quem diga ser culpa da seca, o que para mim soa a falso porque por aqui continua a haver muito quem regue, não no sistema de aspersão, mas que vai causando muita impressão lá isso vai.
Por aqui o Inverno está mesmo a acabar, embora nem se dê por isso porque as coisas têm andando muito quentes, esperemos que no verão venha alguma chuva, será muito bem vinda desde que não seja nos bolsos dos mesmos de sempre.
Quando eras tu o jardineiro poucos gostavam de ti, hoje não sei porquê alguns começam a ter saudades, nesse tempo Portugal era um jardim à beira mar plantado, não faltavam as flores mas a fome era mato, hoje a fome continua a existir, com a agravante de não haver flores.
Tu já tinhas partido quando a predominância cá no jardim foi plantação dos cravos, todos se agarraram ao cravo, cravaram o jardim de “cravas” o que levou a flor a murchar em pouco tempo.
Com o esmorecer do cravo, veio a mania da rosa, mas mesmo nos canteiros com rosas havia uma grande variedade de cores, aos jardineiros da altura começou a pedir-se mais qualificação, já não pegavam na sachola e passaram a ser engenheiros de mão fechada. Para que saibas digo-te:
-- Ainda hoje aparecem por cá jardineiros que fazem muitas flores, mas é tudo artificial, flores cuja matéria inflamável é imprópria para consumo, e nós os habitantes do jardim andamos cada vez mais consumidos, sem as flores que podiam embelezar as nossas vidas. Mas que se há-de fazer, o jardim está nas mãos do jardineiro…
Até a próxima António, e se um dia te for visitar, não contes com flores, primeiro porque não as há, segundo será muito mais fácil para mim arranjar um molho de ervas daninhas.

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