domingo, 18 de dezembro de 2011

O forno e o menino

De passagem por casa de uma família amiga, fui presenteado com um quadro propício à época natalícia, mas que maravilhoso seria se se mantivesse durante todo o ano. Em plena cozinha, dentro do forno, aí estava o presépio, com tudo o que ele requer.
Espectáculo! O Menino Jesus no forno. Alinda mal reposto da surpresa, as escamas desobstruíram-me os olhos e, aí está, o Menino feito Homem, o Jesus alimento, o Pão que sacia, dentro do forno, pronto para o “Tomai e Comei, isto é o Meu Corpo.”
Como por encanto, veio-me à memória (não muito longínqua, reconheço) a cozedura da fornada do pão na “minha” casa. Era como que um ritual sagrado. O fermento na massa, o isco (resto da massa da semana anterior), o peneirar da farinha, a junção dos ingredientes, o juntar da lenha para o forno, os ramos para o “varredouro”, apertado numa das extremidades do “sarruscadouro”, a benzedura na cruz feita manualmente na massa, que é coberta à espera do forno quente, a obrigação de quem entra na casa a dizer: “Benza aqui Deus tudo”. Que maravilha esta de quem precisa do pão como alimento, que foi sempre o suporte de uma alimentação de quem nunca exigiu muito, mas que sempre teve necessidade de tudo.
Desde pequeno aprendi que o pão que comia não só o era depois de cozido, mas quando se dava início a essa tarefa já era pão. Quando ainda era cereal, e mais ainda depois de amassado. Claro está que só depois de passar pelo forno se come.
Essa é a razão do meu encanto ao ver o menino no forno. Ele já era o Menino quando se fez o presépio e não foi mais no Dia de Natal.

Que bom seria se o Menino se mantivesse no forno bem aconchegado até a altura da “festa”.

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