quarta-feira, 18 de setembro de 2024

A Interrogação é pronto

 

Estar pronto a sair

 

Sempre em movimento

O que eu andei para aqui chegar

O que me falta para partir

Andando vou com o vento

Em rasante voo sem nunca levantar

Fazendo cuidado para não cair.

Tenho em mim a cor da saudade

O peso da árvore tombada

Na pele os sulcos de um arado

Onde semeio a escondida verdade

Diluída em mentira que de muito falada

Faz lei em pensamento acorrentado.

Transporto a vida em meus frágeis braços

Ao encontro com uma nova vida

Perseguido por tenaz tentação

De me deter num labirinto de laços

Que me oferecem sua guarida

Em troca da minha escravidão.

 

 

terça-feira, 17 de setembro de 2024

Despertador avariado

 

 

Infelizmente é assim

Todos estamos sujeitos

Tudo tem o seu tempo, e este

Trabalhou muitos anos na perfeição

Foi muitas vezes o nosso despertar, mas...

Há algum tempo a esta parte, destrambelhou.

Toca a despertar a qualquer hora

Quando de dia, menos mal

Se durante a noite, é uma calamidade

O sobressalto é uma realidade

E já não há botão que o desligue

A ida ao relojoeiro de pouco valeu

Abri-lo e tentar o arranjo, fora de questão

A lixeira também não é opção

E no eco ponto não há o velhão

O valor estimativo, e o tempo em que nos orientou

Dão-lhe o direito a continuar no seu lugar

Disparando o alarme a todo o instante

Mantém-nos em alerta constante

Até a corda partir

Ou a carga falir

E ele de vez parar.

 

domingo, 15 de setembro de 2024

Falar sem dizer

 

 

Li no teu rosto a mensagem

Que nunca ousaste escrever

Com receio de eu fazer juízo da tua imagem

Mas fazer contigo a viagem

Foi um gosto, um prazer

Foi caminho feito sem doer

Não foi sonho nem miragem

Foi seguir no centro, não na margem

Sem ter medo de perder

Foi amor partilhado, foi e é querer

E saber que a linda paisagem

Desta pista de aterragem

Que a comunidade pode ser

Traz alegria no sofrer

Mas é bom sentir ainda a aragem

Quando lia no teu rosto a mensagem.

 

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Vinte e nove de Agosto

 

 

Há acontecimentos que marcam a vida

A partir do ano de 1994, o dia 29 de agosto era dia de festa

Fazíamos a viagem desde São Félix até à Redonda (Águeda)

Era o aniversário da Dona Cidália, esposa do Sr. “Maneca”

A família de acolhimento para todos os jovens que marcavam presença no acampamento anual.Cimentou-se uma amizade que nem sempre acontece mesmo em família.

Os acampamentos não foram sempre lá, mas no dia 29 desse mês, eles faziam questão da presença da minha família.

Mesmo quando por doença a Dona Cidália foi para um lar numa terra vizinha, Balazaima do Chão.

Com a doença deixou de nos conhecer, (o marido também era um desconhecido) mas sempre marcamos presença, levando o respetivo bolo e cantando os parabéns.

Esta boa rotina foi quebrada pela morte do Sr. “Maneca” (partiu primeiro que a doente) pouco tempo depois também a Dona Cidália foi para junto do marido.

Cortou-se um forte laço, e a partir de 2007, o 29 de agosto passou de feliz celebração a saudosa recordação.

No ano de 2012, o 29 de agosto volta como data marcante na minha vida.

Vivo de forma diferente esse dia. Mesmo no seio familiar, hoje a data já passa despercebida, para mim não, nunca a esquecerei. Nesse dia mal desperto, agradeço a dádiva da vida. Nesse dia em 2012, muitos e muitos estiveram comigo, das mais variadas formas.

A dona Cidália e o Sr. “Maneca” também.

Não faço questão de lembrar a ninguém o dia. Por isso não escrevi este humilde testo, na data que é para mim muito feliz.

Não embarco em lamechices, mas sei ser agradecido. Por isso o 29 de agosto é para mim enquanto viver o começo de uma vida nova.

E a data do nascimento sempre se comemora.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

O nada de que sou feito

 

 

Só quando o telhado ruiu

Descobri a proteção das estrelas

As paredes ficadas ao alto

Não convencem como casa

Oiço o vento agoniante

Que assobia lúgubre e pressagioso

A chuva corre como pranto

Em lágrimas que me encharcam

Atenuando a aridez que me mirra

No deserto da minha busca

Não há uma gota refrescante

O oásis que eu esperava

Foi miragem alucinante

O caminho imaginado

É penosa travessia

As minhas vestes em farrapos

São o coração dilacerado

De raízes abaladas

Oscila a árvore que me fiz

Procurando no chão que sou

Descubro a fragilidade

Os abalos de média escala

Vão abrindo algumas crateras

Os surdos gemidos

São a lava que me queima

Mas entre um e outro tremor

Há calmaria que baste