Inquilino de Deus

 

 

Entre aquilo que tenho consciência de ser, uma há, que só muito recentemente me acudiu à ideia.

- Sou inquilino de Deus, nesta casa da vida e do mundo.

Um dia serei despejado, pois nunca tive a “renda” em dia, mas, mesmo aqueles que cumprem rigorosamente com as suas obrigações um dia também deixam a casa.

Tomar consciência da minha situação nesta vida, é constatar do pouco que “tenho” de meu, e sentir que podia “ser” um pouco mais.

Que esperança humana pode rasgar horizontes na noite profunda da tristeza, quando a pedra dura que é o meu coração não se move?

Gostaria muito que fosse chamada de coragem a tinta que gasto naquilo que escrevo, porque ela, a coragem, sempre me acompanha, embora saiba que na fábrica que é o meu pensamento, labora uma muito remota teia de ilusões onde não fecundam muitos sonhos.

Por agora, ainda continuo a habitar esta casa, a fazer residência nesta vida, porque tenho um Senhorio que sabe das minhas carências, e para me desalojar nunca abdicará de uma justa causa, e mesmo sem lhe pagar o que lhe devo, continua a cumular-me de Graças.