quinta-feira, 29 de novembro de 2012

"Recordações"

 Uma infância conturbada, onde o direito de ser criança, quase não existia.
As dificuldades para viver sentem-se no que se vê.
O trabalhar árduo e contínuo do pai, o acompanhamento zeloso e constante da mãe.
As refeições dos muitos filhos à volta dum banco, sentados noutros mais pequenos.
O caldo de pão pela manhã, que colmata a falta do leite.
O amontoar da lenha para o forno para a feitura do pão.
O acompanhar os mais velhos nos trabalhos caseiros.
O fazer dos recados com o intuito do ganho de responsabilidade.
A lareira de tijolos. A candeia a petróleo sobre a padeeira do forno.
A ronda da mãe antes de dormir, com o candeeiro na mão.
As brigas, o espaço por baixo da cozinha, refúgio perfeito em mente de criança, para cenário de guerra.
A “doutrina” infantil às quintas de manhã.
O correr e jogar à bola descalço.
O rebentar dos dedos, o curativo para parar o sangue com açúcar e teia de aranha.
A escola, os professores, o aparo e a tinta para escrever.
Os livros escolares, estimados mas muito usados, com as marcas dos dedos dos irmãos mais velhos.
A sapatada do pai, o socorro da mãe que melhor compreende e perdoa.
A alegria das festas, a ceia de Natal.
A regueifa da Páscoa, a visita nas casas do “compasso”.
Os aniversários dos filhos com jantar melhorado.
Uma infância menos feliz? Se calhar.
Mas ainda hoje recordada como escola de vida.

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