quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Dias de inverno

A chuva martela nas telhas
Por cima da minha cabeça.
Na minha secretária improvisada
Com as costas a oeste resguardadas
Olho a este sem parede
Para onde a inclinação do telhado
Faz cair as gotas da chuva
Hoje transformadas em cascata.
Ao longe os choupos parecem dizer-me adeus
Com os ramos num bailado frenético
Ao som de música ininterrupta
Em que o vento é autor e compositor
A trovoada que não ouço, mas vejo no clarão dos raios
Associou-se na borrasca
As faíscas parecem flashes de máquina
Querendo fotografar este dia de céu carregado e negro.
As ervas no campo agitadas e erguidas
Sorvem a água que não cessa de as fustigar.
Entre o barulho da chuva e do vento
O lúgubre tocar do sino na torre da igreja
Dá sinal de que alguém partiu.
Sim porque os soldados mesmo que sejam da paz Infelizmente também morrem.
Dia negro de coração despedaçado
De olhar toldado pelas lágrimas
De pernas bambas e mãos trémulas
Porque estes dias menos claros
Em que as vidas desabam como a chuva
Deixam a nossa alegria de viver
Inevitavelmente mais triste.

1 comentário:

  1. Como corpo poético, muito bom. é como digo. Há pequenos ecos de um Neruda transformado.

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