terça-feira, 13 de abril de 2021

Metaforizando

 

Aonde vamos parar

 

O grito foi lançado pelos ocupantes de um autocarro em marcha desgovernada.

O veículo já anda há tempos na estrada. A ultima revisão foi feita mas não se mudaram peças que deveriam ser substituídas, os trabalhadores da oficina ainda queriam reter o autocarro na altura, mas não havia alternativa por isso continuou obsoleto o transporte daqueles que se arriscam nesta aventura.

É uma falta de respeito para quem precisa utilizar esse transporte.

O motorista não consegue fazer as curvas, não sei se pela direção não ser assistida, se por inércia deste.

Não pára nos pontos devidos, não se desvia dos buracos e nas curvas apertadas há passageiros que são projetados para o exterior do autocarro, e são as marcas que lhe ficam no corpo que os vão afastando deste transporte. 

Não respeita os semáforos e não raras vezes tem atropelado alguns peões em cima da passadeira.

Mas, mesmo assim, há quem aplauda o motorista pela gincana que ele vai fazendo.

Cada vez encontro mais pessoas que vivem assustadas pelo rumo que leva o autocarro.

Há pais que já não deixam os seus filhos utilizar esse autocarro.

Há mães que temem pela saúde dos seus, pela poluição provocada pelo fumo do escape. Há jovens que se recusam a entrar porque não conseguem apear-se nos locais de destino desejado.

Mas quando me perguntam “aonde vamos parar,” uma única resposta me parece possível, vamos aonde vocês e eu quisermos ir.

E recordo-lhes duas coisas. A primeira, é que embora seja certo que o ambiente e as circunstâncias influem tremendamente no bom andamento do autocarro, é em última instância a liberdade de cada um, quem toma as grandes decisões. A segunda coisa que respondo a quem me pergunta onde vai o autocarro parar, é que o autocarro somos todos nós, e não o motorista. O motorista conduz mesmo que mal, mas quem paga o combustível somos todos nós.

Enquanto dissermos só que tudo vai mal, o autocarro não vai andar melhor, é bom denunciar o mau estado do transporte, mas a denúncia que fica pela denúncia, é vento levado pelo vento.

De qualquer forma o grito está lançado: aonde vamos parar?

 

 

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