domingo, 22 de março de 2020

Prisão Domiciliária

Não estou confinado à cela
Ainda posso sair ao exterior sem sair da “prisão”
Acariciar o verde da erva e inalar o seu tenro cheiro
Num silêncio quase normal e nada costumeiro
(cortado pelo sino da torre da igreja)
O meu pensamento voa
E aterra onde não posso ir (onde não devo)
Começo a dar valor ao que sempre foi valioso
Por vezes feito com acre fastio
Sei não estar só, porque além da presença física e amiga
De quem sempre viveu o bom e o mau a meu lado
Tenho o calor daqueles que me povoam
Sinto-os sobre o meu peito sussurrando afetos sem palavras
Que me soam estridentemente queridas
Espero para além da esperança
E confio para além do que consigo dizer
Que o mal que hoje me assola
Possa ser purificação como o crisol é para o ouro
E que este tempo que me castiga sem chicote
Seja tempo de escuta valorizada, para que o futuro que aí vem
Porque o futuro vem de certeza
Seja tempo para dar valor à vida, que me é dada
E que eu vivo sem a viver.

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