Na mitologia grega a Fénix era uma ave que ao fim de uns tempos entrava em combustão, mas que renascia das próprias cinzas, e poderia existir durante milhares e milhares de anos.
Isso deveria acontecer também àquilo que reduzimos a cinza e guardamos, mas não: porque essas cinzas só duram o tempo que aprouver a quem as guardou.
Esta introdução vem a propósito daquilo que ouvi numa argumentação, entre duas pessoas, aquando do velório de um familiar.
Dizia um dos senhores com ar de quem sabe e domina a matéria.
- “Tens de concordar comigo. Primeiro porque a cremação é uma forma muito mais higiénica, no que diz respeito ao ambiente. Segundo porque evita a preocupação de andar a correr para o cemitério. Terceiro, as cinzas guardam-se num qualquer frasco, e duram toda a vida.” (fim de citação)
Pois… as cinzas de um morto duram toda a vida. Pelo menos a vida de quem as guarda até que alguém o queime também.
As cinzas do meu pai, da minha mãe, esposa ou filhos num recipiente fechadas, duram uma vida. E aí sim, é que é uma vida de categoria e sossegada. Não comem nem bebem, não precisam de cuidados de qualquer espécie, não reivindicam qualquer direito; impecável!
Volto à introdução.
Se essas cinzas entrassem em combustão como as cinzas da Fénix e voltassem à vida,
o sábio da argumentação familiar do defunto, arrepender-se-ia e gritaria…
Merda, mais valia tê-lo sepultado.