sexta-feira, 6 de julho de 2018

O nada de que sou feito

Só quando o telhado ruiu
Descobri a proteção das estrelas
As paredes ficadas ao alto
Não convencem como casa
Oiço o vento agoniante
Que assobia lúgubre e pressagioso
A chuva corre como pranto
Em lágrimas que me encharcam
Atenuando a aridez que me mirra
No deserto da minha busca
Não há uma gota refrescante
O oásis que eu esperava
Foi miragem alucinante
O caminho imaginado
É penosa travessia
As minhas vestes em farrapos
São o coração dilacerado
De raízes abaladas
Oscila a árvore que me fiz
Procurando no chão que sou
Descubro a fragilidade
Os abalos de média escala
Vão abrindo algumas crateras
Os surdos gemidos
São a lava que me queima
Mas entre um e outro tremor
Há calmaria que baste
Para descobrir nas estrelas
O abrigo que me faltou
No telhado desabado.

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