quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Estações

Despertei com chuva, ouvindo notícias de Inverno.
Gentes fustigadas por temporais destruidores.
Assoladas por ventanias de miséria. Lama de fome entrando pelas brechas das paredes abaladas.
Ideais voando nos talhados arrancados pelo forte vento.
Corpos mirrados pela trovoada que cruza os céus, ultimo bastião da esperança.
Quando surgirá Abril?
Para quando a Primavera?
Até quando soprará o autoritário ciclone?
Quanto tempo durará a tempestade do cifrão?
Despertei com chuva desejando uma aurora solarenga, que me faça regressar a um verão mesmo fingido, para voltar à liberdade hipócrita que me concedem, se…
E depois virá o tempo outonal, das folhas caídas, dos frutos maduros, colhidos para as mesas dos ricos, donos deste pobre pomar.
“A desgraça de uma nação pobre é que em vez de produzir riqueza produz ricos” (Mia Couto).
Por isso o sol não brilha para todos, e continua o Inverno chuvoso, para quem precisa de calor nos estômagos vazios, para quem necessita de bonança numa vida sem teto.
“A ameaça da morte pela fome, lança o homem contra o homem, e os cidadãos contra os seus governantes” (Johnsom).
Para quando a primavera?
Hoje ainda despertei com chuva, e o céu carregado de negro não agoira tempos melhores.
Quem dera uma manha de nevoeiro, em que surgisse por entre a bruma, não o histórico Sebastião, mas outro Rei, o farol dissipador.
O amor em forma de cruz, o raio fulminante do exemplo de serviço.
Até podia despertar de novo com chuva.
Até podia ser Inverno.
Mas teria o calor da esperança, na espera do sol do verdadeiro verão.

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