terça-feira, 20 de maio de 2025

Oração de um rato

 

 

Porquê Senhor

Porque tem de ser assim?

Viver sempre a fugir

Que porcaria

Vivo dos restos

Apanho migalhas

E só o consigo roubando

Senhor a vida é-me negada

Mas eu persisto

Tenho família somos aos milhares

È nos montes horrendos de lixo

Nos tugúrios e esgotos

Que faço meu habitat

Senhor nos meus caminhos

Só encontro ratoeiras

Todas me são apresentadas

Como banquetes

Há minha frente deliciosos manjares

Se me tento fico preso

Se me aventuro morro

Porque todos me querem ver morto

Dizem que sou repugnante

Indesejável

Meto nojo

Mas vivo e quero viver

Sou intruso na sociedade

Tratam-me a pontapé

Vivo sempre a fugir

Porque tem de ser assim?

Será porque sou pequeno?

Porque nasci assim se fazes outros tão grandes?

Será que sendo pequeno posso ser de algum valor?

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 6 de maio de 2025

Abafado Grito

 

 

Falava em profundo silêncio

Que a espera em ser ouvido

São os ferros a que me agarro

Das grades que não me aprisionam

Antes me salvam

Impedindo-me de morrer afogado

Nas inundações constantes

Das circunstantes e balofas palavras

Que podem até ser enchentes de rio

Querendo abraçar o mar

Mas que rejeitadas pela maré

Nunca chegam a ser ditas.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Estar sempre

 

 

O novo dia estava a começar

Na hora

Não na luz da alvorada

Despertei com um beijo

Com amor

Maravilhosa sensação

Abro os olhos

E também os ouvidos

E ouço o sumido e tímido pedido

“ajudas-me a virar o meu pai?”

Claro que sim, erguendo-me

Estava presente com esse propósito

Como apoio

Auxílio e solidariedade

No sofrimento do pai e da filha

E se sou bom no adormecer

O despertar nunca foi mau

Diz-me que estou vivo

(E mau é acordar morto)

E nem sempre acordo com um beijo.